Bom senso
É preciso ter bom senso sempre. O problema é que o senso é relativo e variável. É como o gosto: cada um tem o seu e pode mudar a qualquer momento. O que é bonito para um, é ridículo para o outro. O harmonioso hoje, poderá ser estranho amanhã. Impadronizável mesmo.
Outra prova é a moda. Tem muita gente que gosta de andar na moda. Porque a moda são as últimas tendências. “Cair a moda” significa tornar o bonito feito e atual, desatualizado. Pegue por exemplo alguma revista de moda dos anos 80. O senso era outro de fato.
Em se tratando de comportamentos e percepções, é difícil mesmo estabelecer um parâmetro para o senso. O bom senso é referenciado pelo que a “maioria” julga adequado. O “senso comum” é comum porque tem mais gente que compartilha do mesmo senso do que de outro senso. Depende então de quem é essa maioria. Isso explica porque tendemos a nos aproximar de grupos de pessoas que tenham visão semelhante à nossa. Ter um senso diferente da maioria nos faz sentir fora de contexto.
O senso também varia conforme a situação, o lugar, o momento. Mas não significa simplesmente satisfazer a maioria, abrindo mão da nossa autenticidade. É perfeitamente possível ser original com bom senso.
Os exemplos clássicos da falta de bom senso que já presenciamos vêm da infeliz incompatibilidade entre a ação e a situação, lugar ou momento.
Assim, o bom senso é construído por meio da observação e reflexão. A reflexão é resultado do processamento de observação. É por meio da análise que se estabelece a escala que vai do comum ao ousado, do retrógrado ao criativo, do monótono ao inovador. E é por meio da reflexão que se conclui em que ponto nos posicionaremos nesta escala.
Ter bom senso, portanto, é saber adaptar-se: saber falar de acordo com a plateia, saber vestir-se dependendo do passeio, saber escrever conforme a exigência ou não, saber comportar-se espontaneamente sem abusar da conveniência.
(Catalão, 12/12/2009)