Teresópolis

Já muito saudoso do convívio com a turma boa do Recanto das Letras, retorno da outrora charmosa cidade de Teresópolis, com a sensação de desencanto com o que vi. Claro, vou logo fazendo a devida ressalva com relação ao meu encontro com meus dois amigos de longuíssima data, Henrique e Toldo. Só alegria, só prazer e muitas, muitas recordações saborosas, regadas a um bom vinho chileno. Em nossas companhias: Beth, esposa do Henrique, e Míriam, minha consorte, digamos assim! Resumindo: um refrigério para os nossos espíritos. Recarregamos nossas “baterias” e, com certeza, voltei dez anos mais moço. Infelizmente, a cidade me desapontou. Para início de conversa, nada de frio, com que tanto sonhei. Dias e noites quentes. Trânsito tumultuado. Excesso de gente. Restaurantes caros e comida sem sabor! Fosse eu obrigado a definir um sabor, diria sem pestanejar: “gosto de plástico” Em um passeio no centro da cidade, Míriam não conseguiu colocar o pé dentro da Caixa Econômica. O meu amigo Henrique, carioca da “gema”, morando há vinte anos na cidade , me diz que Terê está se transformando em cidade-dormitório e a criminalidade começando a aparecer. Diante dessa revelação, pergunto sobre Petrópolis. - acho que pior, ele me informa, corre o risco de se tornar um "favelão", dada a proximidade de Petrópolis com a baixada fluminense. É evidente que essas revelações são comparações com essas mesmas cidades há quarenta anos. Muito tempo atrás e a população cresceu desmesuradamente. Fico pesaroso em transmitir tais negatividades aos amigos e amigas, a inegável perda de qualidade de vida, principalmente para aqueles que residem nessas cidades serranas e, naturalmente, apesar dos pesares, devem gostar de seus rincões. Talvez eu esteja muito exigente, saudosista, até. O fato é que essas cidades do Estado do Rio eram mais agradáveis: Petrópolis, Teresópolis e Friburgo. Os tempos são outros! Penso que a humanidade começa a enfrentar uma nova fase de transição. Como toda mudança, vem o desconforto, o sofrimento e a perplexidade, até que tudo se acomode novamente. Tento procurar as mais amáveis palavras para esse fato, habilidade que possuía o príncipe das crônicas esportivas, o acreano Armando Nogueira, o “Marquês de Xapuri”, lembrado em recente artigo de jornal pelo Governador do Acre, Jorge Viana. O Armando era tão diplomata que, segundo o citado artigo, lembrava sempre a seus amigos: “as nossas diferenças não precisam virar divergências”. Portanto, assimilando a lição, aceito desde já que alguém tenha uma visão diferente da minha com relação a essa perda de qualidade de vida naquelas cidades, que já foram o encanto de todos nós brasileiros, mas que essa diferença, espero, não vire um grave desentendimento. Também é preciso que se diga ser parcial a minha visão, fruto de poucos dias de observação. No momento, mesmo, em que faço essa crônica, meu amigo Henrique me telefona e me diz que o frio voltou em Teresópolis (10 graus). Não tivemos sorte! De volta à minha pequena Miracema, com apenas vinte e cinco mil habitantes, desfruto de ar puro, de comida simples, caseira, e - sem inveja meus leitores - com paladar, de boas amizades, de tranqüilidade, de ruas com pouquíssimo movimento de carros, Bancos vazios, e mínima criminalidade. Como tudo na vida, paga-se um preço. Não temos cinemas, teatros, congressos culturais, restaurantes, shoppings, a exemplo das grandes metrópoles, como Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre, etc. Por outro lado, apesar de carentes deste chamado “progresso material”, nós, do interior, estamos livres da terrível massificação e do crescimento desordenado da população, ocasionando transtornos de toda ordem. Por isso tudo, minha conclusão é inevitável e diante do meu imaginário espelho, pergunto: - espelho meu, espelho meu, existe cidade no mundo melhor que Miracema? Não é “ufanismo”, não! É uma realidade. Agora entendo perfeitamente a frase do escritor inglês Carlyle, que, ao ser perguntado qual a melhor rodovia que ele conhecia, respondeu prontamente que era a que o conduzia de Londres para a sua cidade natal. Indagado novamente qual seria a segunda melhor estrada, com facilidade replicou: “ a mesma rodovia que me leva da minha cidade para Londres”... Logo me vem à mente a Rodoviária da minha cidade, praticamente na rua principal, bem no centro. Fico de olho nela, pequenina, aconchegante, sem tumultos, bem central e as pessoas podendo perfeitamente se deslocarem a pé para suas casas. O dia em que fizerem nova Rodoviária, com maior extensão e bem distante do centro da cidade, mal sinal! Já sei que estará na hora de procurar outra cidadezinha para morar...