Crônica da não vida
A vida é sempre um imenso manancial para nos fazer pensar!
Tal qual palhaços vamos seguindo a vida: Rindo quando nosso coração está em pedaços.
Mas será que existe alguém que acredita mesmo no sorriso do palhaço? Serão tão cegos que não percebem que o íntimo do ser humano, mesmo quando exibe um sorriso, está sempre imerso em sombras de angústia, tristeza, ansiedade, decepção, frustração, etc?
Somos todos como palhaços, representando o nosso papel diante de grande platéia.
Mas por que não sermos chamados simplesmente de atores, ao invés de palhaços? Porque são os palhaços a alma da festa. Somos todos as almas que alegram esse mundo, com nossas roupas, ares felizes, expectativas auspiciosas... e muita, muita tristeza interior.
Palhaços de casaco de peles, jóias caras .. às vezes palhaços famintos, de olhar perdido, pensando no que poderia ter sido, mas não foi.
Mas sempre com o olhar reletindo a alma.
Por que será que teimamos em avaliar o outro pela aparência, ignorando que sorriso nos lábios, piadas, roupas caras, marido/esposa ao lado, filhos bonitos, nada disso consegue representar a verdadeira alma humana?
Somos mais do que mostramos. Carregamos nossas angústias bem escondidas... quem entenderia que o marido charmoso (ou a esposa charmosa), os bens materiais, os filhos, etc, não são o que realmente queríamos, ou precisamos, para sermos completos? O homem é um ser que não consegue alcançar sua plenitude. Em algum lugar do passado ficou o que mais queríamos, ou o que não conseguimos. Ou, talvez, esteja no futuro a esperança de realização. Mas que nada! Pura utopia! Jamais encontraremos, ou conseguiremos, o que nos fará sorrir de verdade. Então seguimos sendo ...
... os palhaços do mundo. Fazemos rir aos demais quando nós mesmos estamos chorando. Ocultamos nossas dores porque os demais não entenderiam, e também não podem nos ajudar.
Estamos tão sós nesse mundo! Nascemos sós, vivemos nossas dores (quem poderia senti-las por nós?), morremos sós.
O homem é um ser solitário que caminha no meio de uma multidão de outros seres tão sós quanto ele. Mas não dá para unir essas solidões todas num imenso mar de solidariedade, companheirismo e compreensão, pois o ser humano é egoísta, competitivo ... jamais estenderia a mão para ajudar o outro a ser feliz.
E seguimos sendo ...
... bobos da corte ... vivendo como loucos. Bebemos, rimos, vamos a shows, bares, teatros, cinema, procurando preencher o imenso vazio existencial que todos temos. E rimos nossas lágrimas, e comemos nossa fome, e bebemos nossa sede, e fingimos alcançar nossa felicidade, enquanto todo o nosso ser anseia por alcançar aquilo que um dia perdemos, ou não conseguimos obter .. ou ainda, algo que está um pouco além e que nos iludimos achando que podemos vir a ter. Mas quando alcançamos ... vem a decepção! Puxa, tanto quis e agora que tenho ... só consegui retornar ao grande Vazio!
Ah, a vida... o que é ela? ... um imenso mar de ... NADA!
"É preciso ter coragem de sofrer a morte das ilusões e a dissolução das projeções. É preciso ter coragem de errar. É preciso ter coragem de ser vulnerável, de ser inferior, de ser suficientemente magnânimo para permitir o fracasso dos outros, porque todo mundo está sujeito a eles; e é preciso ter a coragem de sofrer (e infligir ) dor e orgulho ferido, também, às vezes, como um ego totalmente (machucado e magoado) que precisa ser sacudido para sair de sua autocomplacência. É preciso conservar o senso de humor." Liz Greene, psicanalista junguiana e astróloga
Sim, senso de humor, pois ninguém é obrigado a aturar nosso mau-humor. Temos que, apesar da imensa angústia, mantermos o humor. O humor do palhaço ou mesmo...
... do demônio. Afinal, como tantos ocultistas disseram, é ele quem sabe melhor o que nos espera nesta terra. O sorriso de quem está ironizando o fato de termos sonhos e esperanças, pois sabe, de antemão, que tudo isso é pura ilusão.
Não estranhem o fato de eu ter usado essa figura tão odiada, tão negativada por todos. Pois ela representa tudo o que não queremos ver, mas temos, somos e possuímos, tais como: obsessão, ciúme, inveja, egoísmo, materialismo, sexualidade vazia ... E, mais do que tudo, ele tem a ironia dos que sabem que aqui nada é realizável!