PACTO
 
 
 
      Carlinhos se chegou de modo natural, na maior simplicidade e, olhando para o verde exuberante do capim gordura à frente no Catetinho perguntou se podia ali criar uma vaca com uma bezerrinha, que daria em troca, um litro de leite por dia, e ele se encarregaria das cercas, da conservação do caminho, ele mesmo instalaria uma porteira. 
 
     Altivo e Bento, herdeiros das terras, exaustos de uma discussão da partilha de terras, de trinta anos corridos e sem consenso, deram uma parada, e olharam a simplicidade do outro chegando, interrompendo e expondo direta a sua proposta, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

      Surpreendidos, e descuidadamente, os herdeiros falaram que podia.
Afinal não tinha nada demais usar aquela terra sem uso e sem capinar, o capim gordura crescendo e ocupando toda a área.  Afinal o cara era uma boa presença e podia puxar uma água farta do riacho Mondéus, direta para o morro, que eles poderiam usar tal água para qualquer coisa futuramente. 
 
     Na verdade nem pensaram no Carlinhos e em sua vaca, tinham coisa mais séria a resolver e a discutir, que era exatamente o que estavam fazendo quando foram interrompidos sem a menor cerimônia pelo empregado vizinho dali.
 
     E se afastaram reatando a discussão de quem ficaria com o que e com quanto.
 
     Mais dez anos se passaram, Altivo e Bento reuniam-se nos fins de semana e continuavam a debater como seria a partilha, não conseguiam chegar a um acordo.
     Por fim, tais reuniões foram esporádicas, um ano sim, outro não... Os familiares nem queriam mais ir até lá. Os filhos cresceram, viraram adultos. Casaram e tiveram filhos.
 Estes cresceram sem amar aquele lugar. Na verdade, todo aquele papo era um “abacaxi”, um incômodo.
 
     Até hoje nenhum herdeiro encontra uma solução. Tal virou um incômodo. 
      Cada um espera que alguém resolva aquela questão de partilha de cotas de terras, de quem fica com o que e com quanto. Só que o número de herdeiros aumentou e as áreas de terras pra cada um foi diminuindo, ficando mais desprezível tal herança.
 
     Na vida, a sabedoria e a solução passam ao lado, e os interessados não vêm.
 
      Maior sabedoria que a partilha longamente debatida, foi a solução apresentada pelo Carlinhos, que um dia chegou ao lugar, viu e amou a terra e percebeu o bom uso que ela        poderia ter.  Enquanto uns debatem, outros vivem.
 
      A Terra não tem dono, não é de ninguém, é de Deus, é de quem a usa e dela faz brotar a vida.