As imagens desta página foram retiradas da busca Google, caso seja sua criação e não autorize postá-la, favor entrar em contato comigo que retirarei imediatamente. Obrigada!


 

A PONTE DOS PELADOS! (Da série - Ai, Que SAUDADE... - (Djanira Luz)

 

Remexendo no baú dos meus tesouros antigos, me veio a lembrança de quando levava minha irmã caçula para a escola. Cada novo dia, um acontecimento. Íamos desenhando nossas histórias.

 

Mamãe diariamente recomendava não cortamos caminho passando pelo beco próximo da nossa casa. No terreno havia muito mato e apenas uma trilha estreita para seguir. Aquele trajeto nos levaria rapidamente para a escola. Mamãe e papai, porém, diziam que era perigoso. Poderia ter alguém escondido por lá ou cachorro bravo que nos fariam mal.

 

Acontece que criança adora umas proibições! Ter cuidado era sinônimo de diversão. Minha irmã com sete anos e eu com dez. Bastava ouvirmos a palavra “PERIGO” para viajarmos com a mente criativa infantil. Imaginávamos mil aventuras. Adrenalina pura fazia-nos sair do bom conselho, e seguíamos por um mundo repleto do desconhecido. Era demais!

 

Coisa mais tola é cabeça de criança, cabeça de filho! Pensam que são mais espertos que seus pais e adultos. Achando-me malandrinha demais naquela idade, persuasiva que só, convenci minha irmã a irmos pelo caminho curto. Prometi-lhe muitas surpresas, diversão, também algumas balinhas para chegarmos mais rápido na escola. Doce era garantia de sucesso com as minhas investidas. Criança nenhuma resiste!

 

E fomos nós pelo vale proibido. De um lado da trilha, apenas mato alto. Do outro, algumas casas simples. De mãos dadas íamos nós. Duas meninas seduzidas pela tentação da desobediência. Espertas! Acreditávamos nisso e seguíamos em frente. Nada de mal nos aconteceria. Os pais são muitos exagerados em cuidados desnecessários, pensávamos. E ríamos com risadas que se sabe quando transgredidas ordens. Mas isso é que era bom! Sinalizava sermos corajosas! Por ser mais velha, sentia-me uma verdadeira raposa. Arisca e astuta. Apesar da nossa idade, éramos muito ingênuas. Não tínhamos a maturidade nem a malícia das meninas de hoje com a mesma idade. Nossa teimosia não era por rebeldia, e sim por ignorarmos o verdadeiro risco evidente.

 

No meio do caminho havia uma pequena ponte de madeira antiga. Antes de atravessarmos ouvimos vozes de menino. O menor gritou meio apavorado:

 

- OLHA! ESTÃO VINDO GAROTAS!!! - E correram para dentro da casa. Pelo tamanho, um parecia ter a mesma idade minha e, o outro, mais ou menos a da minha irmã.

 

Eles estavam nus! Tomavam banho de mangueira. Eu curiosa, fui olhar na direção deles. Só que não prestei atenção na ponte e caí! A mãe dos meninos veio em meu socorro. Saldo negativo para mim com joelho ralado e a cara vermelha de vergonha. Minha irmã ria. Na minha cabeça nenhuma aventura brilhante e divertida. O que me ocorreu naquele instante foi a história da Chapeuzinho Vermelho, a mamãe dela lhe dizia para não ir pelo bosque e sim pela estrada. Teimosa feito eu, acabou de cara com o Lobo Mau.

 

Sem aventuras e sem balas, voltei para casa sozinha cheia de medo. Corajosa? Raposa? Eu me assemelhava mais a frágil vovozinha dentro da barriga do Lobo. Depois daquele dia evitei o caminho curto. Pelo longo encontrava mais pessoas, mais lojas e muitas possibilidades de inventar histórias. Quando busquei minha irmã, conversei sobre o ocorrido e que havíamos nos livrado de grande perigo. Já imaginaram se fossem dois adultos nus ou dois cães bravos?

 

A partir desse episódio, durante minhas caminhadas fui descobrindo que seguir pelos caminhos longos possibilita a criatividade, a tolerância, a observância, o exercício da paciência e da resposta sensata. Quantas vezes cortamos caminhos do pensamento e agimos com rapidez da língua ferindo o outro como um Lobo Mau. Não! Prefiro caminhos longos. Neles a chance de me tornar melhor a cada passo. Passo a passo sem pressa de errar. Absorvendo cada paisagem e aprendendo com tudo que for me oferecido. Minha mãe sim, hoje sei, era muito mais esperta que eu!