AJUDA PARA MORRER
O capa da revista chamou minha atenção, o Titulo, "Ajuda para morrer." Eu estava na fila do supermercado, aguardando minha vez, carrinho lotado, pensando em chegar em casa, e guardar toda aquela compra.
Quando olhei para o lado e vi a revista, logo pensei em escrever sobre o assunto, pois o acho por demais necessário, ja que todos nos, estamos sujeitos a ela (morte)
Vou contar de minha experiência, em prolongar ou não a vida de um ente querido, que esta em estado grave.
Hoje sei, há muitos recursos para salvar uma vida.
Antigamente era muito menor a possiblidade de quem se acidentava, ou adoecia seriamente.
Porém, creio que há de se ter bom senso, pois o que assistimos, muitas vezes, é o prolongar de sofrimentos desnecessários para o doente.
Minha vó Carmela, morou em nossa casa, por muitos anos, e aos 96 anos estava a algum tempo bem combalida. Era dificil ate convence-la ao banho diario.
Tamanha era sua fragilidade fisica, seu apetite foi diminuindo, para nossa estranheza, pois era uma italiana boa de prato, como costumava dizer.
Enfim, uma manhã notei ao banha-la, que era evidente o declinio fisico, que ela ia vivendo.
As lagrimas correrem livres pelos meus olhos, amava e amo, essa boa e amorosa vó.
Foi rapido o avanço do declinio organico, e dali alguns dias mais, ela nao conseguia, nem com todo empenho de minha parte, sair do leito.
O medico amigo foi chamado, e receitou soro no lugar de agua, e somente alimentação liquida.
Dois dias depois, ele retornava, pois ela piorava.
Ele então me disse: " Há dois caminhos, ou deixamos ela aqui, no conforto do seu quarto, junto a voces que muito a estimam, ou levamos para o hospital agora, e prolongamos o que, sem duvida irá acontecer."
Eu não tive nenhuma duvida, não vacilei, e optei por continuar a cuidar dela em minha casa, junto de mim.
Ele então me avisou, de como não seria facil, assistir o declinar final de pessoa que eu tanto amava.
Respondi que não me acovardaria, e Deus me daria forças, para dela cuidar.
E assim foi por 19 dias ela resistiu.
A principio gemia, alguns dias mais, e ela se calou, não escutei mais o som de sua voz, a me chamar, a me dizer que eu era bonita, ou Lena voce é boa.
Ela ainda estava ali, mas silenciosa, se preparando eu sabia, para a longa viagem.
Com uma seringa, eu a alimentava, com caldos, soro, e sucos de frutas.
Ela foi cada dia mais, se aninhando em seu leito, tomando a forma que os bebês, ficam dentro do utero. Toda encolhidinha, não gostava quando eu precisava banha-la e troca-la, em sua cama.
Cada dia, ela ficava mais distante, entrava mais em seu mundo, deixava claro que caminhava para o grande retorno.
Algumas vezes ainda me olhou, parecendo me ver, outras, tinha o olhar distante, vago.
No decimo nono dia, logo cedinho, a alimentei, com a seringa, a troquei, com cuidado, e ajeitei em sua cama.
Era pouco mais de treze horas, quando ela começou a emitir um som, que vinha das entranhas do seu corpo.
Eu sabia, que era o final para minha vó, daquela brilhante viagem, por esse planeta.
Me sentei na cama, coloquei a cabeça dela sobre meu colo, com cuidado, e fiquei a rememorar, falando dos momentos bons de nossa vida juntas.
Falei mais uma vez, da minha imensa gratidão, pelo amor generoso, que ela me deu, junto com meu vô.
Falei do amor imenso que tinha por ela.
E de repente ela se foi.
Eu fiquei ali com ela, ainda um bom tempo sozinha.
Fiz uma oração a Deus, e pedi a ele que cuidasse dela com carinho, pois ela merecia muito.
Somente mais tarde, liguei para o medico que cuidava dela, ele veio e confirmou o obito.
Domingo dia 25, fez 4 anos que ela partiu, e ainda me emociono muito, ao lembrar desses momentos.
Por isso é bom escrever, promovemos uma catarse emocional.
Hoje vendo a materia, "Ajuda para morrer" , pensei que eu faria tudo de novo, se preciso fosse.
Não mudaria nada, não a teria colocado em um hospital, onde com toda certeza, haveria mais recurso, e sua vida poderia ter durado, quem sabe mais uma ou duas semanas.
Mas, o carinho, o aconchego, que pode ter em seu quarto, em sua cama, e com nossa companhia, isso não teria tido.
E faz toda diferença, acredito eu.
Portanto para mim, " ajuda para morrer " é sem duvida, toda parte da ciência medica que hoje podemos ter, mas há que sempre, se usar do bom senso.
Para indagarmos, até quando vale a pena.
E qual o limite para parar.