GOZEI

“Sexo não tem sexo nem lei”

(Benito Barros)

O sono era profundo. Uma dor de cabeça de morrer por causa da bebedeira do dia anterior.

Foi uma noite familiar. Dia de natal, família reunida, peru, panetone, champanhe... mesmo assim exagerei no vinho e a madrugada foi afetada pelo meu instinto mendigo de boêmio. Até que o telefone toca, e diz só quem era? Pandora, a Sereia do sal!

- Oi, é kekel? Disse ela.

- Sim, é, quem fala? Respondi.

- Menino, aqui é Pandora.

- E quem caralho é pandora, porra?

- Vai dizer que não se lembra?

- Claro que não, sua vadia!

- Filho da puta, é Edite, aquela que foi sua babá.

- Fala, quenga “véa”.

- Quenga é tua mãe, viado!

- Vai tomar no cu, diz logo o que tu quer!

- É assim... abri um cabaré, venha pra cá amanhã, vai ter o natal da Pandora!

- Na hora... vou na hora. Só vou chamar Bicudo e Marcley Aponga, beleza?

- Tudo bem, sei nem quem são, mas traga-os, e claro, com dinheiro, porque esse papo de paixão é lorota, amor de rapariga, é nota. Esse é nosso dito popular.

- Deixe comigo!

Peguei no sono novamente. Me acordei umas dez horas da matina, liguei logo pros dois “filhas da puta”, e disse: “ei, seus viados, vamos ali num cabaré que inaugurou. A dona me ligou. É uma dessas vadias da vida, ela foi minha babá. Bicudo topou na hora, mas o Marcley fez a média e disse que só tinha o dinheiro pra pagar o dízimo da igreja que ele nem frequenta. Mandei ele se foder e disse que deixasse de ser idiota, pois mais sincero que a igreja, é o cabaré, que pelo menos me toma o dinheiro para me oferecer o gozo do orgasmo.Diferentemente da igreja, que me toma a grana oferecendo a esperança da morte! E desliguei. Com dez minutinhos, o safado do Marcley me liga mandando passar na casa dele. Eu disse: “sabia, caralho! Entenda, não existe pinguço que não saiba que sua igreja e sua fé, residem tão somente num cabaré bem enfeitado e num copo de bebida vagabunda! Como de praxe, ele me mandou tomar no cu e fomos embora!

Chegando lá, foi tudo muito simples e rápido como assim são todos os momentos felizes da vida: bebemos, comemos, dançamos e fodemos. É isso que me faz aplaudir o orgasm. Por ele, gastamos toda nossa grana, paciência... por ele, as vezes até nos casamos e nos jogamos na masmorra da paixão, imaginando que a fidelidade tem algo a ver com o tesão e o amor é algo eterno! Acabem com isso, tesão é apenas o nosso instinto mostrando que não somos fieis nem com a gente mesmo, necessitando, nós, de um corpo alheio que nos faça gozar, para depois virar pro lado e dormir como se nada houvesse acontecido, assim como o amor é apenas um troféu que nosso egoísmo nos condecora sem piedade alguma. A pior prova disso é saber que aqueles homens que tentarem viver só de masturbação, com certeza irão enlouquecer.

O terrível é saber que estou desabafando tudo isto na segunda-feira de trabalho após o domingo de Natal da pandora. Ah... e aqui nessa ressaca que me disseca em pleno dia de trabalho, constatei que é o cabaré quem dá a maior aula às empresas que vivem nessa de chefia, liderança, trabalho em equipe, lucros, essa baboseira toda... no cabaré não tem isso, lá o lucro é dividido e serve para comprar apenas bebidas e perfumes cafonas, a liderança é feita em equipe, e o trabalho, individualmente; cada um goza e produz como bem quer.

Olha só que imoralidade: a empresa, sempre fode o trabalhador e o cliente, esse é sempre o seu obejtivo; já o cabaré, faz o cliente e o trabalhador foder. Perceba só como é moral a política empresarial do bordel: NÃO TEM LUCRO NEM PREJUÍZO E, NO FINAL, O PRAZER É CERTO!

como diria o poeta Henrique Diógenis: "Espanquei sem piedade o amor. Chorando, fiz carinho na face do sexo, e triste com a dor da ausência, matei o meu orgasmo sempre passageiro".