Egoísmo

Por muito tempo sofri com o egoísmo de uma pessoa que eu nem lembrava a face.

Começou na escola. A cada reunião de “Pais” que acontecia, eu sabia que o meu não viria.

Continuava na rua.

- Menino, quem é seu pai?

- Meu pai morreu na guerra - Na época eu achava o maximo ter um pai que morreu na guerra, apesar de odiar o fato de não ter um pai.

Os anos foram se passando, eu fui aprendendo a lidar com a ausência dele. E isto não era difícil, porque eu nunca fora acostumado com sua presença. O difícil, bem, o difícil era me acostumar com as “situações-sem-pai” que eu tinha que presenciar. Eram os pais buscando os filhos pro futebol, eram os colegas contando as mil e uma coisas que aprendiam com seus pais, e eram, também, os cochichos que eu ouvia:

- Ele não tem pai, você sabia?

- Diz que o pai dele morreu na guerra, mas quem vai saber né?

O tempo me ensinou também que morrer na guerra era bonito somente nos filmes, onde raramente mostravam a família e os amigos que ficam sem o seu querido. E que a maioria dos soldados ia para guerra/morte, porque era obrigado a combater, era seu dever...

Opa!

Meu pai era médico!

-Mamãe, se papai era médico, o que foi fazer na guerra?

-Seu pai sempre foi um homem bravo e corajoso, meu filho, foi á guerra como médico-voluntário, pois queria defender nosso país.

Hoje tenho certeza que além de bravo, corajoso, meu pai era... Egoísta.

Será que em momento algum ele pensou que poderia morrer, e poderia nunca mais ver sua família? Será que nunca pensou em tudo que ele poderia me privar, se ele não voltasse da guerra?

Diz o pai-dos-burros (até os burros tem um pai!) que egoísta é a pessoa que coloca seus interesses e desejos sempre em primeiro lugar, até mesmo em detrimento das outras pessoas.

Por sorte, deus, forças ocultas, ou pelos familiares que restaram, o fato de não ter um pai fez com que eu tivesse como meta ser diferente da maioria das crianças que se abatem e se tornam adultos frustrados, fez com que eu me tornasse um ótimo pai, antes mesmo de ter filhos.

Mas, às vezes, me pego pensando, nos milhares de outras crianças que perderam seus pais na guerra. Nas que perdem seus pais na guerra do cotidiano. Nas que perdem seus pais, por egoísmo destes, ou por descuidos, fatalidades. Será que todas vão ter a mesma sorte que eu? É impossível prever o comportamento do ser humano nesses casos.

Em contra partida, o mundo moderno nos trás coisas maravilhosas como os crescentes casos de adoção, por exemplo, que faz com que crianças as quais foram privadas de pai e mãe (na grande maioria por egoísmo ou irresponsabilidade destes) tenham uma segunda chance.

Junto a tudo isso vem também o desejo e o interesse de casais homossexuais em ter filhos. Desejo completamente aceitável e de fácil compreensão, mas que para muitos, acaba indo contra a natureza humana.

Analisemos.

Uma criança, que não teria pai e mãe, vai continuar sem um pai, mas pelo menos terá duas mães! E o mesmo acontece com uma criança que terá dois pais, mas ainda assim, a ela faltará uma mãe.

Será que na matemática da vida dessas crianças "um mais um" sempre vai ser dois?

Sinceramente espero que o nosso egoísmo seja deixado de lado, pelo menos até o ponto aonde ele venha a afetar a vida de terceiros, pois diferente da matemática, na vida, "A"+"B", será sempre "AB" e nunca uma variável qualquer.

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PS.: Tive e ainda tenho a felicidade de crescer com a presença de meu pai e minha mãe, aos quais sou grato por tudo, e sei que graças a eles estou aqui escrevendo essas linhas.

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DuduFranco
Enviado por DuduFranco em 28/04/2010
Código do texto: T2224749
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