Leitor Consumidor

Caro leitor, voltei! (rápido, né? O que será que aconteceu, ele não é de escrever duas vezes ao dia?)

É que estou aqui num vôo de ponte aérea, de São Paulo para o Rio, no final de uma tarde qualquer.

Sempre gostei de escrever e tenho um leve planejamento de vida onde me vejo escrevendo crônicas que me deixarão famoso, lido e rico.

Então faço um pouco de exercícios e leituras com olhar crítico (é uma delícia). E agora estava lendo a revista de bordo, bastante cheio de artigos assinados (não me darei ao direito de defini-las como crônicas) mas de uma falta de assunto assustador.

Se não, vejamos (que me perdoem os autores, mas considerem isso uma crítica de um leitor).

O primeiro que li, de um cara bastante famoso (pelo menos para mim) gastando uma página inteira, com direito a tradução para o inglês (ou seria versão, nunca sei!), falava e re-falava sobre calçadas, pessoas, filas e escadas rolantes, apenas para criticar porque as pessoas não são organizadas! Ele nunca entendeu que as pessoas não são organizadas por natureza. A organização é imposta através de autoridades, costumes e leis e visa apenas isso: organizar. Mas o meu caro autor cita os passeios pelos parques e calçadões como precisando serem organizados da mesma forma que ele acha que deve ser organizada a fila de uma caixa eletrônico! O que temos que entender é que não deveria haver a necessidade da organização ou da fila! Devemos re-aprender a viver no e do caos, como em algumas regiões remotas e em algumas mentes brilhantes.

O segundo, de um escritor provavelmente brasileiro, cita um fato que ocorreu em Londres, deplorável (gastos exorbitantes em um jantar de executivos de um banco) e conta um pouco das punições (menos um que se arrependeu) e usa isso para falar não sei exatamente do quê. Com uma flora e fauna tão rica que é a brasileira, e com um folclore também recheado de monstros, qual o objetivo de escolher animais tão longínquos quanto os ingleses? Quer escrever e ensinar, chegue perto do seu leitor e deixe ele sentir o cheiro da sua própria realidade.

O terceiro tenta cobrir a pergunta de como a internet mudou a vida de cada um. É até legal, coloca alguns exemplos, sempre estrangeiros, mas vale pela questão. Nos faz pensar um pouco, é verdade, mas é um pensamento de constatação e não de criação. A pergunta poderia ser mais no tipo: já que existe uma internet, o que você faria com ela para que sua vida realmente mudasse?

Há ainda outros artigos, menos com cara de crônica ou opinião, mais com cara de reportagem e nem vou discuti-los pois o que eu queria era entender e entendi:

Precisamos mudar o nível do leitor!

Ele é o consumidor! Deveria ter um código de defesa do leitor! Que as pessoas escrevessem com objetivos claros e com o orgulho de terem escrito! Que escrevessem para os que querem ler, os que gostam de ler e os que gostariam de aprender a ler, de verdade.

E que se responsabilizassem pela qualidade do que escrevem.

Pensem nisso, por favor (e me digam se eu passaria imune por este código de defesa do leitor). Quero melhorar e sei que posso.

George Wootton
Enviado por George Wootton em 27/04/2010
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