Morreu o Clayton!

Quando chegou a notícia:"Morreu o Clayton!" Pouca gente se comoveu.Ouviu-se:"Hum!" " Tá!" Mas era mais da gente nova no lugar,que não conheceu o Clayton...

Foi só mais um na estatística da pobreza + drogas = fim violento.Nem notícia foi em jornal,pois não era importante nem único...

Mas,não lembro dele assim!Lembro do menino negro assustado na primeira série,que cantava mais alto que os outros,que não via a hora de chegar a merenda e que sempre sorria para todos.Dois anos depois,ele abandonaria a escola.Viveria na rua porque não trazia dinheiro suficiente para casa,segundo a opinião do padastro.

Dormiria num sofá velho,no fundo da quadra da escola,que era o lugar mais confortável e seguro que teria.Preferia a rua aos castigos do padastro...

Manteria ainda contato,pois costumava entrar e almoçar na escola,já que se fazia "vistas grossas" para o fato dele não ser mais aluno,até que uma nutricionista "denunciasse o fato",pois se se abrisse um precedente a escola viraria o quê,não é mesmo?Então,preferimos jogar fora muitos pratos de comida que sobravam e não podiam ser nem quardados...E ele sumiu no mundo!

Quando retornou rapazinho,continuava franzino.magérrimo e risonho,agora faltando dentes na frente,talvez nas brigas pelas ruas.Nos cumprimentava e pedia moedas,e dele vinha um forte cheiro de éter!

Mas era tão moleque,e prometia que ia se ajeitar,parar de usar "porcarias" e então,dávamos balas,os biscoitos recheados que ele queria mas não podia comprar,roupas e calçados se ele se interessava!

Sumiu de novo,porque arrumou brigas com os mesmos que lhe forneciam as drogas e o redescobrimos pedindo moedas numa conhecida sinaleira perto do Shopping Bourbon Ipiranga.Sempre que nos via,as suas "sôras",nos mostrava com orgulho para os companheiros de esquina,como se tivesse concluído a faculdade!

E eu tinha certeza que neste momento a gente era a única referência boa de uma parte da vida curta dele...E sem exigir moedas,aceitava o que dávamos,devolvendo o obrigada com o tradicional sorriso!

Em sua vida,as drogas lhe deram um prazer e um companheirismo que nem a escola e nem a família conseguiu tirar.Morto hoje,segundo a pessoa que trouxe a notícia:"Todo cheirado,fumado,na rua!Menos um!"

Nem mesmo sabemos onde foi enterrado...

Se outra vida existir,peço a Deus que olhe pelo Clayton,que lhe dê

um lugarzinho melhor do que ele teve aqui,pois ele não era de exigir muito,não é mesmo?Pode cuidar umas nuvenzinhas por aí...E,podes crêr,ele vai retribuir com um sorriso grandão!Até porque,meu Deus,vamos combinar,ele não teve tanta opção e oportunidade nesta passagem por aqui de se sair melhor....

***O caso do Clayton foi acompanhado pelo Conselho Tutelar,mas não surtiu efeito desejado.Ele continuou nas ruas.E em uma delas morreu.Hoje.

Brigeth
Enviado por Brigeth em 26/04/2010
Reeditado em 26/04/2010
Código do texto: T2221688
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