A Letra Escarlate...
E porque tem se falado tanto nisso no mundo vou falar da "aliança"...
E sabem quem foram os primeiros a carregá-las em dedos anulares? Os hindús, como um certificado de compra, aniquilando para a noiva/objeto, as oportunidades de outros compradores. Äquele dote já é meu!!"
Os gregos e romanos fizeram o favor de espalhar pelo ocidente. Após o século IX, a igreja católica adotou como símbolo, assim como adotou hipocritamente o celibato.
Essa liga de metais, tornou-se símbolo. E que símbolo!
Símbolo de fidelidade e unificaram sua tradução, restringiram-na a sua cômoda interpretação.
Símbolo que executa a pena moral, que aflige que tortura, que amedronta!
Aprisiona na aludida liberdade.
Mas isso tudo, nas mulheres. Para os homens*, elas têm outros significados, eles eram os donos do poder. Todos os poderes! Eles nos compravam.
Crescemos sob estigma de honrá-la. E entenda-se por honrá-la: dignificar, venerar, não-desmerecer...
Todas as normas e regras que imaginarmos citar como exemplos de merecimento, poderiam ser reavaliadas, exceto uma: Traição.
As mulheres, foram criadas no intuito de reter desejos primatas, impudicos e anti-monogâmicos, desejos esses que são tão glorificados nos homens.
Progredimos numa proposição incontestável do cristianismo, que nos manteve por milênios reprimidas.
Sempre acuadas no pavor sofrermos as ações de vingança em ato de desforra a violação de tão sagrado acordo, embora unilateral.
Apreciar e deleitar-se com os encantos orais e a beleza máscula?
Infiel. Mesalina.
Sorrir maliciosamente ou jogar charme, sem mesmo considerar viável a cama?
Infiel. Torpe sedutora.
Descobrimos com o passar dos séculos que o que os olhos não vêem, o coração não sente, e também não se sente na pele às dores das chibatas ou a moral difamada...
Descobrimos que podíamos, dentro dos limites do obscuro, ceder as tentações do anjo rebelde...
Sucumbir a luxuria e a cobiça também...
Mas ela estava lá. Nos anulares. Reluzente, dourada, notória. Acusadora.
Melhor seria continuar escondida. Como se ocultássemos nosso lado virtuoso do lado pecador, para não contaminá-lo, manchá-lo... Não manchar a valorosa virilidade e supremacia marital.
Submetendo-nos a meras mercadorias, e mercadorias pérfidas.
Muito teve que ocorrer para que as mulheres conseguissem iludida igualdade.
Ainda que forjada, mas impostamente reconhecidas.
Adquirimos o direito de trabalhar, de votar, de ter amigas e mais pra frente amigos, o direito à TPM...
Dever de ser felizes, de termos individualidade e vaidade, de sermos interessantes e misteriosas. Dever de ser fúteis e intelectuais, sim
porque as letras também conquistamos! Cíclicas...
Mas a aliança continua escondida.
E como Cherry é dada a perguntas...
Quando vamos para lascividade, numa tentativa de disfarçar o ato opróbrio, escondemos a aliança. Dentro das sacolas, das bolsas, das carteiras, do sutiã... Mas na verdade, o que precisamos ou queremos esconder?
Seria mesmo, ainda, ofensiva a constatação de que escondemos a aliança?
Seria mesmo, ainda, lesiva a averiguação de que TAMBÉM traímos e que estamos saindo do âmbito amoroso, transcorrendo para a concupiscência tão igualmente aos homens?
Seria apenas, esse um DIREITO e DEVER do homem, na sua suntuosa condição de macho?
Até quando continuaremos ludibriados que a palavra “fêmea” não se exprime em impulsos, e às vezes tão somente impulsos, que precisam de satisfação?
Até quando isso será motivo de choque e depreciação ao ser humano, que do mesmo modo nós mulheres, somos?
Como as mulheres, que antes da sua condição sexual, é um ser humano, plausível de todos os sentimentos, vontades e anseios inerentes a sua humanização, podem ser desclassificadas, desmerecedoras de algo, por agirem da mesma forma que os homens?
O questionamento de tudo isso é: porque somos condenadas quando traímos e os homens são exaltados?