REMÈDIOS DA MINHA INFÂNCIA.
Chamava-se Tiro Seguro! Oleo de rícinio. Vinha dentro de um vidro de mais ou menos vinte centímetros com um pòzinho marron no fundo. Tinha um gosto horrível, só de pensar meu estômago regurgita. Era o remédio usado naquela época para verminoses. Todos os anos, pelo uma vez, os pais submetiam os filhos a um ritual impensável para os dias de hoje.O tal purgante era tomado à noite e depois, as crianças ficavam trancadas no quarto por dois ou três dias, não lembro bem...Não podia sair, tomar vento, pegar sol ou comer algo diferente que não fosse pirão escaldado de frango cozido. Chegou o meu dia, ou melhor a minha noite...O Tiro Seguro estava lá, na xícara.Ao lado outra xícara de chá, quente e bastante açucarado, que era para segurar o purgante no estômago. Minha mãe avisou: se voltar, tem outro vidro ali e assim, não havia escapatória. Galhardamente, tomei o insuportável. E depois, quarto escuro! No dia seguinte, lá pelas tantas horas da manhã, eu estava morta de fome. A casa estava em silencio. Sorrateiramente fui até a cozinha. Em cima do velho fogão à lenha, uma panela com peixe cozido. Não resisti. Comi um bom pedaço e voltei o mais depressa que pude para o quarto. Minha mãe dizia que se a gente saísse do quarto e tomasse vento ou comesse algo diferente do costumeiro, o rosto inchava e nunca mais voltava ao normal. Satisfeita a minha gula, mas apavorada em ficar deformada, os dias restantes foram de angustia. O tempo todo apalpava meu rosto para ver se estava diferente. Finalmente fui liberada e mais que depressa fui ao quarto de minha mãe olhar-me no espelho para ver como estava o meu rosto. Que alívio! Estava como sempre.Penso que foi aí que descobri a vaidade feminina. Ainda bem que existem remédios mais modernos para verminoses, porque o tal Tiro Seguro arggh! Era horrível.