Cafuçu*

Um cafuçusto. Vi-me de repente, há alguns séculos atrás, mais precisamente em 1600 na Cidade de Filipéia de Nossa Senhora das Neves, onde cafuçucedeu o maior cafuçumisso de nossa história: a nossa terra foi invadida por um cafuçujeito esquisito, grosseiro, asselvajado, de terceira cafuçubcategoria e inábil, de um portal do tempo que chegou boiando após o afundamento da ilha Cafuçuperlotada no oriente do universo paralelo espelhado. E foi aí que esses seres se espalharam pelo mundo. Viraram cafuçulamericanos, cafuçulparaibanos e tantos outros cafuçuspeitos de infiltrarem-se em qualquer meio social e comprometerem a criação divina transformando a nossa imagem e semelhança com o Pai.

Cafuçuênio, que saia de um boteco, aproximou-se de mim com uma mala de couro amarela, penteando as cafuçubrancelhas com um pente do tamanho de seu braço, cabelo abrilhantinado, óculos redondos maiores que a cara, medalhão no pescoço, gravata rosa de bolotas verdes que ultrapassava a braguilha, camisa verde-limão com azul-turquesa, cafuçuéter de botões amarelos, meias listradas, sandálias havaianas e cheirando a Mistral. Ah! Carregava ainda um rádio de cabeceira nos ombros que só seria inventado na primeira metade do século XX. Apresentou-me a seu amigo Cafuçúbito que carregava um lambe-lambe, coisa antiga demais, lembram? No início do século XXI, qualquer um saberá dizer o que é fotografia digital. E lambe-lambe?

Ao meu redor circulavam bicicletas vermelhas barra-circular, com bagageiro e buzina fonfom e fusquinhas pra todo lado na cor azul-geladeira, invenções do mundo industrializado que só aparecerão depois da Revolução Industrial e do Proletariado.

- Prazer em conhecer!

- Tu tais arrumadinho demais! Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk! – Ridicularizou-me Cafuçúbito – E já foi logo me encaixando uma cabeleira pixuim cor de laranja – mais tarde descobri que era por causa dos simpatizantes do prefeito da cidade de João Pessoa, um girassol austero, que governará a cidade de 2005 à 2010, brilhando imponente e que estava ali bem próximo girando o pescoço na direção do povão, cafuçurrindo sempre.

Cafuçuênio acenava para outros cafuçus chamando para acompanhar a bandinha de sopro com músicas belíssimas e cafuçuavemente persuadiu-me a acompanhá-lo. Era um som de frevo, alternando com cafuçucessos de cantores que despontariam à partir dos anos de 60/70 no séc. XX e que faziam o maior cafuçucesso, como Márcio Greike, Valdick Soriano, Lindomar Castilho, Paulo Sergio, Odair José, Reginaldo Rossi e Wando.

Da Difusora, a “Rádio cafuçu” vinham os recados apaixonados, as propagandas de perfume barato, sabonete e talco, de pente, desodorante, e todos os artigos de uma boa penteadeira. Eram músicas cafuçuaves que não deixava ninguém cafuçurdo.

E o Hino do Cafuçu? Uma pérola de Paulo Vieira e Kennedy Costa que estavam na festa: “Olha o cafuçu. Ô, ô, ô,! Olha o cafuçu, eu também sou”.

Saímos da concentração da praça D. Adauto para descer a ladeira da Rua da Areia... Antes, próximo ao colégio João Paulo II, nós passamos o maior cafuçufoco por causa da rua estreita e cafuçus com força! Foi a maior cafuçuadeira, mas sem confusão nenhuma! O maior cafuçussego. Tudo era alegria. Triste mesmo eu só vi uma estrangeira cafussueca chiquérrima que conheci. Eu disse:

- Diga aí Filé!

Levou um cafuçusto e nem me respondeu – Cafuçugeri que deixasse a tristeza de lado e que fosse uma “cumade” – devia estar com o cafuçubconsciente doendo por que era toda certinha e arrumada demais! Muito chique e compenetrada! Muito dondoca! Muito madame! Emprestei-lhe a gravata do Cafuçuênio e bafurei-lhe talco Johnson & Johnson!

- Qualquer coisa é nenhuma! – brinquei.

Esse simples fato a fez desistir em cometer cafuçuissídio.

Quando a festa acabou percebíamos ter sido o maior cafuçucesso! Era madrugada e a maior cafuçujeira nas ruas! Cafuçubimos a ladeira de volta; fiquei cafuçuper satisfeito nesse dia cafuçublime!

Acordei às 10:00 horas da manhã em casa ainda ouvindo a bandinha no pensamento... Teria sido um sonho?

Jogaram pelo muro o jornal que assino, e qual não foi a minha surpresa! Era o ano de 2008, sábado, dia 2 de fevereiro e a manchete do dia: “Cafuçu: irreverência e alegria no Centro Histórico de João Pessoa”.

Nota:

*O Cafuçu é considerado um dos mais tradicionais blocos carnavalescos do projeto Folia de Rua, que promove as prévias carnavalescas na cidade de João Pessoa(PB), criado por um grupo de artistas e jornalistas com uma identidade temática diretamente associada aos tipos populares que circulam na cidade.