Tempo moderno

Vida moderna

Ou de como se tem um mau dia

Nossas vidas acabaram se prendendo às novas tecnologias, e foi assim que os motores e cliques passaram a fazer parte de nossas vidas. É cada dia mais massacrante esta dependência, de ouvir o som de uma maquina o zumbindo em nossos ouvidos. Você já acorda direcionado ao acionamento de um controle remoto e este nem sempre está onde deveria, você vira tudo, se vira feito louco, pois já esta na hora do seu jornal matinal, onde está este maldito controle, que deixei aqui? E assim, você já acionou o controle remoto do seu stress amigo. Já não tem mais jeito, a gora é só uma questão de tempo, ou seja, rolarem os minutos cruciais de sua rotina. Grita pela casa. Ligue o liquidificador e processe estas frutas, que já estou atrasado e tome lhe stress. A filha menorzinha acorda e chora, pede mamadeira, sua mulher se aborrece. A televisão teve de ser ligada na mão dura mesmo e porque não fizera isto antes?

Vida moderna, vida que nos empurra ao abismo, e este elevador que demora, vá ver algum idiota, apertou todos os andares e são 20 e eu moro no segundo, e ele lerdamente vem contando passos, não sabe que tenho que estar cedo no meu trabalho? E uma voz misteriosa me segreda e orienta a descer as escadas, que é muito bom pela manha e são apenas dois andares. Pronto esta esquentando seu stress desce as escadas saltando degraus, esbarra no balde esquecido pela faxineira, ele rola escada abaixo e tudo lhe apavora, por quê? De chave na mão ao longe já aciona as portas do carro, tudo perfeito ele obedece, carro liberado, ronco de motor, emissão de monóxidos no ar logo cedo nos seus pulmões de seus vizinhos. Arranca, acelera, pisa,puxa, coloca avança, aperta outro controle, portão se abre e agora sua luta começa. Benze-se, segura com fé as fitas do Senhor do Bonfim amarradas ao seu retrovisor, buzina para um transeunte desatento, que corre para pegar o ônibus.

Dentro da sua casamata motorizada, se enerva com a falta de atenção dos pedestres, e segue seu caminho. Transito lento, vida moderna, todo aos seus carros vai começar a grande corrida para o nada. Ruas apertadas, sinais atrás de sinais, buzinas pipocam de todos os tons, o inferno esta formado, todos com seus tridentes, avançam pela avenida, na disputa desenfreada de logo alcançar a pista de transito rápido.

No radio uma emissora vai lhe guiando, pelos caminhos menos dolorosos, você aperta outro controle, muda para uma musica, mas não há musica, há uma banda cantando uma musica chata com palavras errôneas de outro idioma, e você se aborrece, chateado com o péssimo gosto daquela emissora, aperta irritadamente mais uma vez seu controle, automaticamente vai a uma próxima emissora, que dramaticamente relata os estragos das chuvas pela cidade, informando monstruosos engarrafamentos, você fica triste e impotente, pois é sua trajetória, seu dia começa a acabar.

Abatido, abre o porta luvas saca um CD do Vander Lee, seu disco preferido, isto vai lhe acalmar e ajudar a vencer esta terrível guerra matinal, avança o dial para a musica: Onde Deus Possa me ouvir. Seu tempo cada vez mais curto e seu humor também. A musica lentamente vai lhe recompondo a paz e até uma certa ternura, você cantarola junto(" Meu amor deixa eu chorar até cansar - me leve pra qualquer lugar aonde Deus possa me ouvir.."), aperta outro botão, diminui o ar, olha em volta e todos lhe parecem zangados, todos nas suas maquinas com seus vidros escuros enegrcidos pelo isolamento, como se escondessem um do outro, você está só naquela avenida recheada de pessoas solitárias stressadas nas suas maquinas.

Mais um sinal, mas uma esquina e você, se vê chegando ao trabalho. Olha o relógio que te vigia e condena. Com tempo escasso, aquele tradicional cafezinho da entrada fica adiado. Você entra no stress pela busca desesperada por uma vaga e só encontra aquela, que ninguém quisera, devido distancia e não ser coberta, mas é o que lhe resta. Manobra nervosamente estaciona, reclama, aperta botão, tranca, confere, sai correndo debaixo da chuva fina para mais uma longa jornada dia adentro. Assim se constrói mais um homem barril de pólvora nesta correria cotidiana de nosso tempo moderno, fazendo com que pessoas comuns e normais se transformem em verdadeiros seres brutalizados, sujeitos a reações nunca delas esperadas.

Toninhobira.

25/04/2010.

Toninhobira
Enviado por Toninhobira em 25/04/2010
Reeditado em 26/04/2010
Código do texto: T2219299
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