O AÇUCAREIRO AZUL

Estava na cozinha, descascando e picando alho bem miudinho, para fazer um macarrão, alho e oleo para o jantar.

Coloco tambem abobrinhas fatiadas bem fininho.

Segundo quem come, diz que fica muito bom. Inclusive eu, mais eu não conto, pois como até pedra, se arranjarem um jeito de amolece-las.

Bem, estava eu lá, distraida nessa brilhante atividade, quando olhei para o lado, e vi o açucareiro azul, com lindas flores de amor perfeito pintadas sobre ele.

Bastou essa imagem, para me lembrar de sua origem, sempre que olho pra ele, me recordo da historia.

Minha vó e meu vô, o ganharam de presente de casamento. Isso ocorreu no dia 27 de fevereiro de 1926. Ele esta um pouco idoso, fazendo as contas quase 85 anos.

Pois é, naquela epoca, não havia as hoje famosas listas de casamento, presente bom, lá na nossa vila, era açucareiro , ou meia duzia de pratos de louça branca, comprado no unico armazem que lá existia, ou ainda um pinico, peça de muita utilidade com certeza era o pinico. Naqueles idos anos, em que as casas do interior não sonhavam em ter banheiros nos quartos.

Pois bem, esse açucareiro que por sinal é muito bonito, esta a quatro gerações servindo a familia.

Quando criança, lembro-me de ve-lo em nossa mesa da cozinha, adoçando chá de erva cidreira, hortelã, erva doce. Café não, pois minha Vó já adoçava no bule, so quando tinha visita era que o café era adoçado por cada um em sua xicara.

Gostaria muito que ele num passe de magica, comecasse a falar, e a contar, tudo que ja presenciou nessa longa estada em nossa familia.

Tenho certeza, que muitas coisas boas ele iria contar, como por exemplo, quantos chás de hortelã adoçou, e ficou a ouvir as conversas de minha vó, com minha mãe e tias, lá na cozinha de casa, ao pé do fogão a lenha.

Tambem, iria poder falar de outras vezes, que tentou adoçar o chá de erva cidreira, servido em hora de tanta aflição ou tristeza, por problemas e perdas, que a vida se encarrega de trazer.

Eu me lembro, de uma ocasião que ele foi muito usado, passava de mão em mão, na cozinha lá de casa, para adoçar as xicaras de chá, tentando diminuir a dor que ia em nossos corações, foi no dia em que minha mãe morreu. Eu tinha então 11 anos.

Minha Vó contava, ter saido dele, o açucar para adoçar o primeiro chazinho de camomila ou erva doce, que minha mãe tomou, quando sentiu sua primeira colica de barriga, ainda bebê.

Dele tambem saiu o açucar, para adoçar os cafezinhos, que foram servidos aos conhecidos , que vieram visitar minha mãe quando eu nasci.

Um dia quando já estava casada pedi a minha vó, que me desse de presente o açucareiro azul, pois sempre gostei das flores pintadas nele, e principalmente da historia que, meus avós contavam dele ter sido um dos poucos presentes que ganharam em seu casamento.

E ela me prometeu que um dia o daria para mim.

E assim o fez, quando veio morar em minha casa, trouxe com ela esse mimo.

O açucareiro azul, acompanhou meus avós, pelos 67 de casamento e quando olho as flores de amor-perfeito, pintadas sobre ele, reflito, que sao iguais aos meus amados avós, que tiveram um amor-perfeito, um pelo outro.

Aos 96 anos minha vó partiu ao encontro de seu único amor, que a antecedeu em alguns anos.

Mas ele, o açucareiro azul, continua aqui em casa, servindo a minha familia.

Todo domingo quando minha filha e meu genro, vem almoçar conosco, ao final da refeição, preparo um cafézinho, acomodo na bandeja, e junto com ele vai o açucareiro, pois meu genro nao gosta de adoçante.

E sempre damos risadas, quando meu genro Ricardo, pergunta: " é novo esse açucareiro"

A primeira vez que ele perguntou, respondi que não e contei a história.

Ele continuou a perguntar, e eu muitas vezes esqueço que está só de brincadeira, e vou logo contar a história do estimado açucareiro.

Nessa hora, todos riem, porque estão cansados de saber a origem do açucareiro azul.

Hoje, olhando para ele, enquanto picava o alho, pensei, voce merece uma cronica, pois tem trabalhado por muitas gerações, sem descanso, adoaçando nossas vidas, com açucar e com ternas e inesquecíveis lembranças.

Trabalha por quase 85 anos, sem requerer aposentadoria, nem direitos.

Ele merece uma cronica, não merece ?

Lenapena
Enviado por Lenapena em 24/04/2010
Reeditado em 07/07/2012
Código do texto: T2216382