DEPOIS QUE O LADRÃO SE FOI...
Por volta das 17h vou chegando do trabalho. Suada, cansada, doida pra tomar um banho. Fim de tarde é fogo! Coloco a chave na fechadura. Opa! O que é isso? A chave não vai. Tento novamente. Inútil. Penso um monte de bobagem: ué, será que desaprendi como é que se abre uma porta? A fechadura estragou enquanto eu estava fora? O lugar em que coloco a chave é mesmo a fechadura? Concluo: se qualquer uma destas hipóteses for verdade estou ficando doida...
A ficha cai: do outro lado tem algo impedindo. Mas, como? Sou a única que tem a chave. E se estou de fora, aliás, doida pra entrar, quem está lá dentro? Sem hipóteses desta vez. Tento de novo e escuto algo caindo do outro lado. Outra chave. Bom, agora fiquei doida de verdade. Sem o impedimento: “Abre-te sésamo”! Raul Seixas sempre vem junto com essa frase! E quando sésamo se abriu meu “mundo caiu” juntinho com a Maysa. Socorro! Tem ladrão na minha sala! Na minha sala não! Na cozinha, nos quartos, no banheiro. Em cima do telhado, será? Sim, porque por ali não restou pedra sobre pedra!
Fui desagradavelmente visitada! E pelo jeito queriam mesmo o pote de ouro que achei ao pé do arco-íris. Terremoto, tsunami, ou furacão? O que definiria melhor aquele cenário? Puxa, nem eu sabia que meu pote de ouro valia tanto! Devastaram tudo e depois se foram, deixando totalmente aberta a porta dos fundos. Se eu soubesse teria entrado por ela. Pelo menos pouparia o trabalho de ficar à porta da frente, com tanta filosofia sobre chaves e fechaduras...
Nada a ser feito. O jeito é chorar (de raiva) sobre o leite derramado, que inundava o chão da cozinha. Será que o ladrão estava com fome? Fome, fome, não sei, mas morto de ódio sim! Porque o que não tinha por ali era um pote de ouro. Só lamento pelo anel de formatura do Magistério, presente do meu pai. Aquela pedra verde com os brasões do professor, já era! Vai ver o gatuno tinha feito promessa na noite do réveillon: “Esse ano vou parar de roubar! Vou estudar pra professor”. Por isso, roubou o anel na melhor das intenções, pra não gastar tanto com a formatura. Coitado, se soubesse quanto ganha um professor!
A vizinhança toda se junta. Quê isso? Como foi? A gente não viu nada! Sinto muito, eu também não! Estava sendo professora, enquanto levavam meu anel! Ô sina! Feitas todas as especulações e o boletim de ocorrências, cada um segue seu rumo. Só resta um coronel da polícia militar (na qualidade de vizinho, aposentado). Dá-me dicas de segurança doméstica. Entre tantas a da noite: “Tranque a porta. Deixe a chave, mas amarrada ao trinco. Os “visitantes” conhecem muitos truques. Colocam um jornal, empurram a chave e pronto! E só entrar! E com honras, “pela porta da frente”! Não custa se precaver... Valeu coronel! À noite sigo as recomendações do meu vizinho. Vai que o larápio resolve voltar pra buscar algo que esqueceu, não é? Nunca se sabe...
O dia amanhece. Ontem foi ontem e o que passou, passou. Graças ao “bom ladrão” que me levou aos conselhos do coronel aprendi a me proteger melhor. Olho a porta dos fundos com a chave bem amarradinha. Isto me dá uma incrível sensação de segurança! Muito bem, vou ver a cara do sol! Giro a chave. Opa, o que é isso? Meu Deus, eu não acredito! Não acredito no que fiz! Ou melhor, no que não fiz: amarrei a chave com mais de mil voltinhas de barbante, mas esqueci de trancar. A porta ficou aberta... Só isso...