DOCES RECORDAÇÕES

Quando eu tinha uns quinze anos, de vez em quando passava o fim de semana na casa das amigas Maria Lúcia e Badia. Sábado à tarde (eu tinha aulas pela manhã), pegava o bonde perto do Parque da Água Branca e fazia uma viagem... Ele seguia pela avenida Gen. Olímpio da Silveira, passava na praça Marechal Deodoro e subia a avenida Angélica. Depois percorria a Paulista de cabo a rabo e só lá pelas tantas da avenida Domingos de Morais eu descia. Andava um pouquinho e lá chegava.

Era recebida com alegria por todos daquela grande família. Seu Chein, o pai libanês, me saudava com sotaque característico. A mãe, dona Erundina, fazia festa pra mim. Os irmãos mais velhos, com cara brava, gostavam de lembrar que estariam sempre atentos, de olho em nós. Tinha o Ivan, da minha idade, que tocava bem piano. E os menores se escondiam no quarto para ouvir nossas conversas.

Na hora do jantar a mesa era farta. Foi com eles que aprendi a comer quibe (frito, assado ou cru), charutinho de folha de uva e homus e coalhada junto com a refeição. Além de ‘raleu’ na sobremesa.

Depois sempre tinha uma reunião na vizinhança, aquelas habituais da época, regadas a uísque e guaraná (não necessariamente no mesmo copo). Ao som de long-plays na vitrola dançávamos rock, twist, cha-cha-cha, samba, o escambau. Entre brincadeiras e paqueras, ali ficávamos até altas horas, naqueles tempos não tão altas assim.

E era justamente nessas ‘mais altas’ que nos deliciávamos com as músicas românticas. Brasileiras, italianas, americanas. Nessas alturas, todo mundo dançando de rosto colado...