Lembrar e Não Lamentar
Ai, minha Avenida Pedro II, nessa mundana Belo Horizonte. Hoje tão barulhenta e soterrada de carros apressados. Antes as pressas eram outras e noturnas nas casas suspeitas de lâmpadas vermelhas e saias curtas. Tempo em que as gonorréias e os cancros andavam de calças compridas. Ai cachaças bebidas nesses cantos e que adocicavam nossos sonhos dos carinhos pagos. Os ouvidos acostumados que estavam no doce cafonismo choroso do Carlos Alberto E o guarda noturno quando se adentrava esquecendo sua pose, e a cidadã de vida irregular lhe roubava entre risos o quepe autoritário. Ali ele era por um momento gente igual onde os hormônios bailavam nus. Ai, benditas filas de homens sem estresse esperando as coxas, tão diferentes dessas filas de banco. As banheiras hidráulicas se encolhiam na mágica de um rolo de papel higiênico. E voltávamos para casa, não sem antes pegar um PF no Rosário, mais lépidos, mais sãos (O HIV ainda morava no inferno). Isso era a poesia das ruas, o verso sem culpa... Uma humilde homenagem aos doces poetas malditos do modernismo de 1922