Indecisão
E não são os sopros de uns que esgotam o ar de outros; lembro-me destas palavras com vigor, palavras minhas, ditas há tempos e tempos.
Andava à noite pelo caminho de torno, só, rosto ao vento, pensamentos distantes. Nunca me fadigaria de meu amor e devido a isto, acredito estar farto. Tamanha lassidão – é possível estar exausto de não se enfastiar?
Nunca acreditei em nada, nada me acredita e isto basta. Não sei o que é amor, estou velho e ao menos uma vez devo entregar-me ao esmo. Passo cá todas às noites e vejo uma mulher jovem sentada em um daqueles bancos da praça da cidade. Direcionarei olhares a ela – será que é assim que devo agir? Flertar com os olhos? Não! Devo dialogar com ela, indagá-la sobre o seu dia. Sou racional demais para esta emoção, nem me recordo à última vez que falei com uma mulher, talvez tenha sido com Catarina; menina linda e saliente. Tratava-me como irmão e eu nem sabia que ela já provara do calor humano intimamente. Voltando a jovem, logo estarei entediado e entediando-a com minhas palavras arcaicas, nunca sei como agir e padeço neste não saber.
Continuo andando, sem olhá-la, entretanto se ela tiver alguém? Pior, se o alguém a espera e agora?