SALVE JORGE
Hoje é o dia de São Jorge
Nascido na Capadócia de paisagens lunar, região da Turquia, assim diz a lenda que era militar e guerreiro, com proeza de salvador de uma bela princesa, das garras de um dragão.
Quando criança, lá naquele interior cantado aqui, em versos e prosa, lá onde a lua tem sua plenitude nas noites frias e sem mulheres, acho que por insuficiência naquele tempo, de suas mulheres trancadas a sete chaves pelos pais, pois hoje me parece diferente, pois segundo dados das estatísticas, há um excedente delas pelas Minas Gerais. Mas naquele tempo nós meninos fomos levados a crer na imagem do Jorge dentro da Lua montado no seu cavalo espetando um dragão. Com olhos voltados para o céu em noite de lua, naquela cidade de pouca luz, a gente poderia jurar de pés juntos que realmente o via tão claramente, com a mente de quem não mente,sendo uma criança certamente.
E Jorge se fez presente por toda minha infância, até porque ostentava no peito sua imagem, amarrada num barbante derivado de um embrulho de pão comprado em Belo Horizonte, como marca registrada de quem chegava da capital. Penso que julgavam ser o pão de lá muito melhor que o nosso, pois todos traziam este enorme pão enrolado no famoso papel de pão, tendo como amarra o tal barbante, bem como fazia parte da esnobe viagem a compra daquelas maçãs de cheiro inigualável, sendo as vermelhas enroladas em papel roxo e as verdes em papel branco e para alguns mais afortunados, incluía-se ai, as uvas embaladas em pequenos caixotinhos de madeira. Hoje fico ate curioso, maçã vermelha nos lembra o amor, o roxo nos remonta ao tecido usado em caixões: morte. Mas que viagem é esta?
Mas voltando a Jorge, o santo se tornou forte candidato a derrubar os status de todos os santos, que tinham suas guaridas normais e tranqüilas no Brasil. O guerreiro Jorge, foi tomando formas de vencedor e destemivel, logo apareceu sendo o defensor ferrenho do Jorge Bem, e para outros um mágico, que tinha o poder de fazer com que todas as armas da maldade, jamais tivessem sucessos no alvo, se por perto o Jorge estivesse, nem as os punhais, arma tão fatal no passado, que segundo causos de minha terra, os brigões e valentes os conservavam (oxidados) enfiados em Ananás, fruta da família do abacaxi. As correntes remanescentes oriundas das senzalas, não prenderiam corpo de nenhum negro escravo , quando por Jorge se evocava e assim lá nos frios e festivos porões dos engenhos/senzalas, Jorge logo se instalou na figura de Oxossi aos negros logo se incorporou e em aparelho se protagonizou.
Jorge sentou praça no Brasil e se fez poderoso no Rio na tentativa de desbancar o também guerreiro São Sebastião, assim foi Jorge se ocupando de proteger a todos. Não deixando espaço para o azar. Como não tem nenhum bobo mais vivo um clube de São Paulo logo convocou o guerreiro e dele fez seu símbolo e protetor. Jorge passou a viver de ponte aérea, enfrentando toda serie de dificuldades com os constantes impedimentos do aeroporto da grande capital paulista. E não foram poucas vezes, que nas noites de chuva, se avistava um cavalo voando pela Serra da Mantiqueira em alguns finais de semana, sempre pousando na região do Parque São Jorge, para entrar em ação nas tardes de domingos.
Eu também que nada de bobo tenho, e como sempre o vigiei nas noites de luar, também, me agarrei a sua veste, e que nada de ruim possa me acontecer. Na chegada a Salvador com minha medalha no peito já enferrujada pelo tempo tratou logo de saber onde ficava seu quartel, para sempre mostrar minha fidelidade e pela cidade circular com tranquilidade. Hoje Jorge é celebrado, por todos respeitado, olhando para Céu, rogo a ele, que proteções se disponibilizem na guarda de todos meus parentes e meus amigos, inclusive os do Recanto.
Três vezes Salve São Jorge!!!
Agô Bamba Oxossi !!!
Toninhobira. 23/04/2010.
Comentario ilustração de Jose Claudio (Recanto das Letras)
Sabe que o sincretismo é para mim a forma mais integral e legítima do ser humano manifestar a sua religiosidade? As religiões com seus dogmas absolutos não conseguem desfazer as crenças e a fé (que é unica, individual). Então, VIVA JORGE! ///Você me rememorou dois momentos adoráveis. Meu pai quando vinha a BH, comprava numa padaria que havia na rodoviária um pão que a gente chamava de bengala, de tão grande. rsrs. E no seu texto fiz uma viagem em Estampas Eucalou , uma música de Xangai , que mistura mitologia com religião e sonhos (olha o sincretismo aí)///" montado no meu cavalo / libertava Prometeu/toureava o minotauro /que era amigo de Teseu/viajava o mundo inteiro /nas estampas eucalol/à sombra do abacateiro/Ícaro fugia do sol/ subia o monte olimpo/ribanceira lá no quintal/e mergulhava até Netuno/no oceano abissal/São Jorge ia pra lua/lutar com o dragão/são Jorge quase morria/ mas eu lhe dava a mão/e voltava trazendo a moça/com quem ia me casar/era a minha professora/que roubei do rei Lear."///Um grande abraço e obrigado sempre, amigo! Paz e bem.