Encontro: Pai(sogro) e Namorado(genro).

Ele era um militar, já na reserva, de físico ainda consideravelmente bom, ao olha-lo parecia que o que se tinha à frente era um carvalho, robusto e seco. De fato, sua reputação na vizinhança era mais ou menos essa, a de um ranzinza, reclamão e solipsista. Vivia isolado, dentro de casa, praticando seus hobies, que eram ver novela e tricatar. Ninguém, exceto a filha, que convivia com ele, sabia dessa sua prática tão sensível.

Contam-se várias histórias sobre o seu humor, um dia, por exemplo, ao perguntar, daquele modo despretencioso e trivial, se iria chover ou o que aconteceria com o tempo, a vizinha ouviu como resposta: "Minha filha, venho da padaria, e não do céu..."

A filha, menina formosa dos seus vinte e poucos anos, era cuidada por ele como se fosse uma granada. Essa era mesmo uma ideia que ele gostava de cultivar, por isso ele mantinha-a sempre à mão, cuidando para que outros não lhe tocassem. MAS por mais que ele tivesse cuidado e zelo, ela lhe escapara por enre os dedos.Um dia apresentou seu primeiro namorado. O nome dele era Rodrigo, mas sempre se referiam a ele como "Guigo", era mais ou menos popular e já tinha tido outras tantas namoradas.

PAi:ENtão "Gago", o que você faz?

NAmorado: É "Guigo"... Ah tio, agora não faço nada,estou dando um tempo pra cabeça. EU fazia, até algum tempo atrás, filosofia, mas percebi que precisamos de um tempo pra assentar as ideias.

Pai: Hummm, então você fazia filosofia. Me parece que esse curso não tem lá muita disciplina, pelo menos não a julgar suas vestes e cabelos descuidados.

NAmorado: Ah sim, o cabelo. POis é, é que ando com um style meio Hippie, prefiro pensar na natureza como divina do que submetê-la à minha força. Ela é uma pessoa. A disciplina, como o senhor diz, não serve para nada, acaba com a liberdade.

PAi: Claro, se cada um fizer o que lhe vir à cabeça, então todos seremos livres. Bom saber que minha filha encontrou um moço tão profundamente coerente em seus raciocínios. Mas me diga, a julgar pela sua idade e pelo tempo que estou na reserva, diria que você serviu no quartel em que eu ainda estava. Qual foi o seu batalhão?

NAmorado: Ah, eu não servi. EU nem gosto dessa palavra. "Servir" acabou já na idade média.

PAi: Humm, além de coerente, loquaz e bem asseado,ainda é um nacionalista. Acho que minha filha não poderia ter escolhido melhor...

(continua)

Gabriel Dietrich
Enviado por Gabriel Dietrich em 23/04/2010
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