INVERNO

Houve um tempo, em que eu amava o inverno... sentia verdadeiro prazer em caminhar por entre os dias frios, os ventos cortantes, a névoa mágica que tudo cobria... Gostava dos pingos de água que caiam gelados, até do gris do céu...

Mas então chegou um tempo, em que lembrar do frio me fazia lembrar de tantas coisas que amava e que não queria mais lembrar... e eu procurei esquecer aqueles sonhos, e tudo o que se relacionava com o inverno e suas belezas... eu nao amei mais o frio, nem encontrei mais beleza nas manhãs iluminadas, e não mais sonhei com os picos gelados das montanhas, nem com a imensidão do ártico, ou com os animais que habitam os lugares encantados pelo gelo do planeta...

Depois, os ultimos quinze anos foram passados entre o calor abundante do pantanal e do nordeste brasileiro... Aprendi a amar o calor, o céu sempre azul, a areia quente e brilhante da caatinga, os rios de água sempre aquecidas pelo sol... E eu pensei que para sempre ficaria feliz e aquecida em um dos lugares ensolarados do planeta...

Mas, o vento passou novamente na minha vida, e me trouxe de novo para um lugar onde todas as estações coexistem em paz...

Cheguei no inverno, no primeiro inverno depois de muitos anos de sol e calor... e em um momento em que minha alma toda estava impregnada de frio... Tudo o que conseguia sentir era saudades do sol, do calor, do brilho do céu azul....da sensação de estar protegida por alguma força, e aquecida contra todo o inverno que pode exister no mundo... Detestei o frio que fazia dentro e fora de mim.. senti medo e solidão no inverno, e enquanto khara aguardava Barentz nos gelidos invernos dos mares do norte, eu sofri e procurei guardar meu coração em algum lugar bem longe do inverno e do frio.... Não consegui...

Agora, um ano depois, novamente acordo e percebo que estou em uma manhã fria de inverno... seis graus... vento cortante, céu gris, nuvens, folhas balançando-se.... Que interessante.... Percebo que em algum lugar e em algum momento, eu reencontrei o prazer de sentir o vento de julho me abraçar... Não há em mim mais medo algum de sonhar os sonhos do inverno, ou os sonhos do verão.... Teriam os sonhos voltado a morar em mim novamente? Quando, em que momento?... Não sei, tudo o que sei, é que agora sou uma mistura de céu azul e nuvens grís, de calor e frio abundante, de sol e gelo... e novamente encontro em mim o prazer da chuva e do sol, do calor e da neve, e percebo existe alguem novo em mim, que tenho que conhecer...

Estou na asas desse cavalo alado, correndo ao encontro desse novo tempo...