Histórias de Lampião

Sou do sertão do São Francisco, divisa da Bahia com Pernambuco, região em que Lampião e seu bando atemorizavam seus habitantes. Não muito distante de sua terra natal, distrito de Nazaré, do antigo município de Vila Bela, hoje Serra Talhada, a sua história era contada pelos mais antigos, quase sempre com versões diferentes. Com o passar do tempo, a literatura de cordel trouxe informações sobre suas andanças pelo Nordeste, com estilo bem humorado de sua valentia e daqueles que o apoiavam, os chamados “coiteiros”. Depois, muitos livros foram publicados sobre sua história, traçando toda a sua trajetória, desde o seu nascimento em Pernambuco até a sua morte em Sergipe, no município de Poço Redondo, mais precisamente na Grota do Angico, onde se deu o massacre.

Conheci pessoas de sua família, mas não tive coragem de perguntar-lhes nada sobre a sua real história, até por uma questão de respeito, sabendo que elas preferiam viver no anonimato, sem a exploração da mídia. O meu conhecimento de sua história restringe-se a relatos dos antepassados e dos poucos livros que li, além de guias turísticos que nos levam à Grota do Angico.

Ontem, num canal de televisão local, assisti a uma entrevista de um empolgado historiador que narrava os fatos com tamanha precisão, reproduzindo frases e gestos, que parecia ter convivido diretamente com os cangaceiros da época, ou grande habilidade de ator. O entrevistador, admirado pelo conhecimento histórico do entrevistado, perguntou-lhe em quais livros ele havia se baseado para aquele relato tão minucioso. A resposta foi de que vinha muito mais de histórias contadas do que escritas e que ele próprio estava em débito com a comunidade por ainda não ter escrito seu livro.

Então que aguardemos mais um livro sobre a história desse cangaceiro que se tornou um mito do Nordeste, chegando ao absurdo de ser apontado como herói, cuja tese felizmente foi derrubada. Não podemos admitir que o homem, em busca de um ideal, pratique a violência indiscriminada, atingindo inocentes. Banditismo e terrorismo jamais podem ser confundidos com heroísmo.

Irineu Gomes
Enviado por Irineu Gomes em 23/04/2010
Código do texto: T2214065
Classificação de conteúdo: seguro