VOCÊ SOFRE ?
Seria uma tolice considerar que temos direito a um caminho de triunfos, sem sofrimentos nem desilusões, sem coragem nem heroísmo. Porque isso não sucede a ninguém e não é deste mundo.
Quando nos encontramos numa situação de sofrimento, aquilo que mais nos custa não é tanto o sofrimento em si, mas a rejeição desse sofrimento. A revolta muitas vezes supera a nossa razão. Quase nunca nos resignamos diante da dor; então passamos a questionar a Deus o porquê de tanto sofrimento, passamos mentalmente a vangloriar as nossas virtudes e o desmerecimento da dor sofrida, chegando mesmo a indiferença ante a presença divina.
É preciso saber que a resignação é cheia de amor, de sentimentos nobres, de elevadas paixões, enquanto a indiferença nulifica o amor, aniquila a nobreza d’alma, destrói as virtudes e deprime a moral. O resignado não aparenta sofrimento, porque conhece a Lei de Deus e a ela se submete com humildade. O indiferente também não mostra sentir a dor, mas, orgulhoso e alheio aos ditames celestes, repele de si a idéia do sofrimento.
Por outro lado se conservamos o sabor das derrotas sofridas, também poderemos planejar a vitória que se segue. O que é inquestionável é a onipotência de Deus.
Ele sussurra e fala à nossa consciência através do prazer, mas nos alerta por meio da dor; a dor é o seu atalaia, seu meio de despertar um mundo adormecido. Por tudo isso o sofrimento só dói quando não há um sentido que o ilumine, quando não se reveste de amor.
Não somos poupados a sofrimentos, mas é-nos dada a possibilidade de reagir e continuar a avançar. Se temos saudade do que passou, também nos é permitido sonhar com o que está por vir.
É precisamente face a tudo o que nos desagrada, nos contraria e nos faz sofrer que somos muitas vezes chamados a liberdade, a escolher o que não quisemos e que até talvez nunca quereríamos de maneira nenhuma. Há na existência uma lei paradoxal: não podemos ser verdadeiramente livres se não aceitarmos que nem sempre o podemos ser. Algumas pessoas repudiam o sofrimento como se já nascessem merecedores do Céu.
Daí, devemos dar razão a Publio Terêncio, poeta romano, quando disse que "nada do que é humano me é estranho.
Refletir sobre o sofrimento é antes de tudo fazer uma pausa na vida e tentar descobrir porque a felicidade nos abandonou. Foi-se a felicidade, veio o sofrimento. Assim, quando Sêneca, em "Cartas a Lucílio", afirmou que "os homens considerados felizes são, na verdade, os mais infelizes", quis realmente afirmar que podemos disfarçar o sofrimento, mas não negar sua existência.
Quando o sofrimento chega à soleira da vida humana, o ser humano se revela frágil frente ao seu novo estado; então de cabeça baixa recorre a Deus. Se for alegre, fica triste; se perdeu a pessoa que amava, fica como um barco à deriva; se perdeu a saúde ao ser atacado por uma doença maligna, fica debilitado; enfim, o sofrimento atinge o ser humano por meio de suas multifaces - doença, morte, solidão, rejeição, desprezo... Tudo isso gera no ser humano alguma ponta de sofrer.
A dor pode significar um degrau para a evolução. Sofremos porque temos o anelo da perfeição, a purificação de nossa alma.
Nas grandes crises pelas quais passamos, quando colocamos a vontade de Deus acima da nossa, o sofrimento torna-se mais leve, mais suave, enaltecendo os ensinamentos de Jesus que diz que o seu jugo é suave e o seu fardo leve. Somente Deus nos dá força para continuarmos a jornada da fé, apesar das asperezas do caminho.
Quando olhamos os nossos problemas de um ponto de vista espiritual, eles começam a perder a sua intensidade, o seu valor relativo. Esta observação equivale a subirmos a uma montanha e de lá olharmos para baixo: tudo parece em tamanho diminuto. Procede assim aquele que dá mais valor ao espírito do que à carne. Essa pessoa pode passar por todos os tipos de dificuldades, que continua calmo, paciente, inclusive, agradecendo a Deus pelo sofrimento, pois o vê como uma forma de ativar a sua evolução espiritual.
A fé cura tudo, tornando-se o último salto existencial do homem para chegar àquele que pode nos livrar de todo sofrimento. A fé autêntica em Cristo é o único meio que temos de suportar a dor e superar os traumas existenciais da vida.