ARVORE DA VIDA

Os senegaleses consideram o baobá o repositório das almas dos seus ancestrais.

Com o tráfico negreiro, sementes dessa espécie vieram para Pernambuco onde as arvores se desenvolveram muito bem e onde há lei estadual para proteção das mesmas.

Recentemente o embaixador do Senegal esteve no Recife e num rito cívico-religioso plantou, no campus da Universidade Federal de Pernambuco, três novos pés que graças ao solo fértil e os cuidados dos jardineiros estão se desenvolvendo rapidamente para se tornarem tão majestosas quanto às demais espalhadas pela região metropolitana, com destaque para a que fica em frente ao Palácio do Governo, na Praça da República, centro do Recife.

Na margem esquerda do Capibaribe, em frente ao Parque da Jaqueira (bairro do Parnamirim), há um exemplar que se estima tenha bem mais que trezentos anos de idade.

Quantas almas negras, finalmente livres da escravidão, estarão residindo em seu tronco imenso?

Aqui na praça central do bairro em que eu moro, surgido da transformação do Engenho São João da Várzea do Capibaribe cujo primeiro proprietário foi o herói da Restauração Pernambucana, João Fernandes Vieira que junto com outros bravos lutou para a expulsão definitiva dos holandeses no século XVII desta parte do Brasil, tem um exemplar dessa arvore.

É ainda um bebe, mas já demonstra toda força vegetativa. Seu tronco volumoso, se comparado à baixa estatura, lembra a perna de um elefante, com a mesma textura e dobras de um paquiderme. Os galhos finos apontam para o infinito lá em cima, como a indicar o destino das almas que se refugiam na dobras de sua epiderme.

Nessa época do ano, fim de verão início de outono, ainda que mal definido por conta de nossa proximidade com o Equador, as folhinhas amareladas atapetam o chão no entorno do tronco, contrastando com o gramado de um verde exuberante por conta do período chuvoso. Cumprindo a fenologia determinada por seu DNA, o baobá neném ainda não sabe que onde ele está pouca alteração haverá nas condições climáticas e que por causa disso ele não precisará se preparar para os rigores do inverno. Que poderá desfrutar por mais tempo da companhia das folhas que lhe fornecerão alimento sem que tenha de separar-se delas como acontece conosco, quando a morte leva para sempre aqueles que nos são caros, aqueles que nos alimentam a alma.

Sentado num dos bancos ao redor da arvorezinha, lembrei da legião de conhecidos, colegas, amigos, amores e parentes que, tal como as folhas amarelas, foram destacados de minha vida.

A lembrança dos que se foram repousa agora naquele tronco rugoso que se encherá de folhas novas antes mesmo que chegue a primavera, pois como disse o poeta...

“Com o som das folhas caídas,

Arrastadas pelo vento,

Surgirá um novo fado,

Livre das garras do tempo “*

*Fado Final – Sapateirinho da Beira/ Feijó Teixeira