Perto demais
Rosa Pena
Não li a sinopse do filme. Um filme dirigido por Mike Nichols, por si só já é uma referência (diretor de Quem Tem Medo de Virginia Wolf?), A Gaiola das Loucas, A primeira noite de um homem (entre outros mais), despertou minha vontade, aliás essa não falta nunca. Adoro cinema.
Não sei porque imaginei um filme de amor. Será que foi por causa da Julia Roberts? Ela com aquele rostinho eterno de Pretty woman ou de Um lugar chamado Nottin Hill. É filme de amor na certa; imaginei. Sabia sim, que não seria um amor encantado, ameno! Amor tumultuado foi o que imaginei, visto que o filme foi baseado na peça teatral do dramaturgo inglês Patrick Marber (o cara pega pesado) e quando esta fez temporada no Brasil a direção foi do Hector Babenco. Babenco não gosta de água com açúcar.
Só não imaginava um filme de desamor, quer dizer do amor feio, muito feio. Amor sem afeto, manipulado, desgastado, do" eu te amo", sem sequer saber o que é isto. Amor feito de verdades cruas, totalmente despido de fantasias, onde a prioridade é a sexualidade de forma grosseira. Surpreendente mesmo é o filme tratar o sexo de forma tão rude e aberta, e não apresentar uma cena sequer de sexo explicito da forma convencional que estamos acostumados a ver no cinema e na TV. Ninguém vai para cama, ninguém agarra ninguém. Até tem sexo virtual, tratado de forma cômica, ridícula, patética (um dos melhores momentos do filme).
Orgasmos fingidos num teclado, onde os pseudos-amantes digitam:
-Ahhhhhhhhhhhhhhhh!Ohhhhhhhhhhhhhhh! Uiiiiiiiiiiiiiiiiiii!!!!!!
No geral o sexo é falado de forma grotesca, tratado em conversa entre os casais onde se prima pela boca suja dos impiedosos amantes. Relações se acabam não pelo que se fez ou pelo que se faz, mas sim pelo que se fala.
Devem estar achando que não suportei o filme. Ledo engano. O filme traz verdades dolorosas, mas que merecem nossa visão e observação. Duas martelaram em minha cabeça esta noite.O fascínio total com a matéria está detonando o imaterial. Amor tem corpo ou o corpo é do amado?!?! Esta é velha, mas cada vez está mais esquecida. Bom relembrar sempre.
O que o filme deixa claríssimo é que essa nossa época tão modernosa, onde tem que se discutir relação a todo custo, ser "transparente" para ser decente acabando nos levando aos excessos de conversa e honestidade amorosa. A verdade absoluta tem que ser sempre dita acima de qualquer coisa? Nem Freud dizia tudinho a Simone. A mentira muitas vezes é mais heróica e saudável do que a tão apregoada relação cristalina.
Não se maltrata um coração para se ser autêntico. Ou se maltrata?
O filme gera a dúvidas cruéis em relação aos rumos que o amor contemporâneo seguiu.
Secamos definitivamente as fantasias do amor absoluto, de tanto contestarmos ele?
Dois casais resolvidos plenamente em sua sexualidade imploram por afeto.
Este anda escasso; sem teto e desconexo!
O amor?
- Perplexo!
*
Título Original: Closer
Rosa Pena
Não li a sinopse do filme. Um filme dirigido por Mike Nichols, por si só já é uma referência (diretor de Quem Tem Medo de Virginia Wolf?), A Gaiola das Loucas, A primeira noite de um homem (entre outros mais), despertou minha vontade, aliás essa não falta nunca. Adoro cinema.
Não sei porque imaginei um filme de amor. Será que foi por causa da Julia Roberts? Ela com aquele rostinho eterno de Pretty woman ou de Um lugar chamado Nottin Hill. É filme de amor na certa; imaginei. Sabia sim, que não seria um amor encantado, ameno! Amor tumultuado foi o que imaginei, visto que o filme foi baseado na peça teatral do dramaturgo inglês Patrick Marber (o cara pega pesado) e quando esta fez temporada no Brasil a direção foi do Hector Babenco. Babenco não gosta de água com açúcar.
Só não imaginava um filme de desamor, quer dizer do amor feio, muito feio. Amor sem afeto, manipulado, desgastado, do" eu te amo", sem sequer saber o que é isto. Amor feito de verdades cruas, totalmente despido de fantasias, onde a prioridade é a sexualidade de forma grosseira. Surpreendente mesmo é o filme tratar o sexo de forma tão rude e aberta, e não apresentar uma cena sequer de sexo explicito da forma convencional que estamos acostumados a ver no cinema e na TV. Ninguém vai para cama, ninguém agarra ninguém. Até tem sexo virtual, tratado de forma cômica, ridícula, patética (um dos melhores momentos do filme).
Orgasmos fingidos num teclado, onde os pseudos-amantes digitam:
-Ahhhhhhhhhhhhhhhh!Ohhhhhhhhhhhhhhh! Uiiiiiiiiiiiiiiiiiii!!!!!!
No geral o sexo é falado de forma grotesca, tratado em conversa entre os casais onde se prima pela boca suja dos impiedosos amantes. Relações se acabam não pelo que se fez ou pelo que se faz, mas sim pelo que se fala.
Devem estar achando que não suportei o filme. Ledo engano. O filme traz verdades dolorosas, mas que merecem nossa visão e observação. Duas martelaram em minha cabeça esta noite.O fascínio total com a matéria está detonando o imaterial. Amor tem corpo ou o corpo é do amado?!?! Esta é velha, mas cada vez está mais esquecida. Bom relembrar sempre.
O que o filme deixa claríssimo é que essa nossa época tão modernosa, onde tem que se discutir relação a todo custo, ser "transparente" para ser decente acabando nos levando aos excessos de conversa e honestidade amorosa. A verdade absoluta tem que ser sempre dita acima de qualquer coisa? Nem Freud dizia tudinho a Simone. A mentira muitas vezes é mais heróica e saudável do que a tão apregoada relação cristalina.
Não se maltrata um coração para se ser autêntico. Ou se maltrata?
O filme gera a dúvidas cruéis em relação aos rumos que o amor contemporâneo seguiu.
Secamos definitivamente as fantasias do amor absoluto, de tanto contestarmos ele?
Dois casais resolvidos plenamente em sua sexualidade imploram por afeto.
Este anda escasso; sem teto e desconexo!
O amor?
- Perplexo!
*
Título Original: Closer