A língua aproximando o Brasil de Portugal

Volta e meia assistimos ao espetáculo inglório de alguém ou um grupo de pessoas surgir com uma idéia aparentemente luminosa e de utilidade para a humanidade. Quase sempre a coisa dá em “água de batata”. Certas mazelas da humanidade terminam, às vezes, de repente, sem o uso de qualquer manual de boas maneiras. Basta uma melhoria tecnológica, por exemplo, para que haja um salto na qualidade de vida das pessoas. O avanço científico silencioso também provoca adiantamentos significativos até na consciência das pessoas. Portanto, eu, da minha parte, estou dispensando essa turma, talvez por falta do que melhor fazer, que deseja ansiosamente mudar a língua portuguesa, como está acontecendo agora com a mudança dos acentos nas nossas palavras. O argumento é de que necessitamos aproximar, tornar uniforme o português escrito em todos os países que falam o mesmo idioma. Inconscientemente já estava lutando e relutando com esta mudança, tanto que ora uso o trema (que pelo acordo ortográfico não existe mais),ora não uso. A mesma coisa com a palavra idéia (pelo novo acordo, sem o acento agudo), fico vacilante se uso ou não uso o acento. Como sempre acontece comigo, fico tímido em me rebelar e, “com um murro na mesa”, gritar: - Não vou aderir a este acordo, porque tenho certeza de que a maioria dos brasileiros está contra esta “bobice”. E os nossos amigos portugueses, também, pá! Porém só ganho a necessária coragem, vejam só meus queridos leitores, depois da leitura do livro “O Português que nos pariu”, da notável escritora Ângela de Menezes, fazendo uma deliciosa gozação sobre essa tal aproximação, em um dos capítulos do seu livro. Sempre as mulheres me dando força... Ora, é muito fácil demonstrar a insignificância e irrelevância deste acordo, pelo exemplo que ela nos oferece, como boa descendente dos nossos patrícios. E afirma “que este acordo não vai dar certo”. “Never”. Com muita graça, ela nos dá o exemplo de um português avisando para os seus filhos pequenos: “ ó putos, vocês levarão uma pica!”. O que um pai brasileiro, na mesma situação, estaria dizendo: “ó meninos, vão tomar a injeção”! Teve razão, pois, o nosso Agildo Ribeiro quando disse na televisão que já tinha sido puto em Portugal, já que morou lá quando menino. Os sinais gráficos jamais vão aproximar a língua dos dois países e dos demais lusófonos. E além do mais ninguém segura as transformações que o próprio povo vai fazendo na nossa língua, que, segundo o poeta Olavo Bilac, foi a última flor do Lácio... Não quero nem falar na escrita que a juventude vem inventando nos emails e sites de relacionamento pela internet. Essa ânsia de dirigir, de comandar, de aplicar regras uniformes para uma população sempre acabou muito mal, essas diretrizes sempre desaguaram nos famosos “ismos”: nazismo, comunismo, fascismo, etc.,etc. Espero, pois, que esse acordo ortográfico não “pegue”. Enquanto isso, continuarei adotando as regras antigas até o último minuto do ano 2012, prazo final e tolerado para que todos nós cumpramos o tal acordo, que não está aproximando nada e, pelo que sei, nem os portugueses estão interessados nisso. Vou à rua, feliz com meu grito de independência, sentindo o gosto da liberdade, agora um novo homem, um livre pensador, enfim! Encontro-me com o Manoel Leão, filho de português, alegre como sempre, mas que me fala de uma pequena preocupação. Sem dúvida, minha aproximação com ele é muito grande. Somos amigos! Já com relação à língua, há controvérsias... É que ele está com receio de encontrar uma “bicha” enorme no Banco, que, fatalmente, irá criar problemas para ele, com muitas contas em atraso para pagar. Ora, pois, pois!