Fato ou Versão ?!
Quando alguém conta para você um episódio que aconteceu, você tem certeza de que sabe distinguir o que é “fato” e o que é “versão” no que está sendo narrado? Sabe mesmo? Tenho minhas dúvidas!
Se levarmos em consideração que todo ser humano é único, que o conjunto de valores, experiências e conhecimento que formam este ser humano é singular e a forma que ele vê um “fato” é definitivamente específica e própria, podemos afirmar com certeza que não existe um “fato” e sim, apenas “versões” de um acontecimento. Difícil de entender isso? Vai piorar!
O “fato” em si também não ocorre. Na verdade todos os “fatos” são sempre “versões” que eu, como ser humano, consigo narrar para alguém. Esse alguém, ao apropriar-se da minha narrativa, cria outra versão baseado nas suas experiências, valores e conhecimento acumulado até então. Desta forma, não conseguimos narrar um “fato”, por mais simples que ele seja, pois sempre ele será percebido com a singularidade que cada indivíduo possui.
Lembra da brincadeira chamada telefone sem fio? É um bom exemplo, de forma exagerada, que demonstra que não conseguimos reproduzir uma determinada fala (fato) para outros, sem criarmos nossa própria versão.
Tem um filme que foi muito utilizado em treinamento nos anos 80 chamado: “O olho do observador” (Siamar) que mostra que um mesmo “fato” tem inúmeras interpretações: de quem viu o fato, de quem foi personagem do fato e assim por diante, cada um conta sua versão com base na sua “bagagem” de vida.
Outros filmes de Hollywood também já utilizaram o tema como fio condutor de inúmeros roteiros. Tudo para mostrar como é impressionante que a narrativa que um ser humano utiliza não consegue abarcar com precisão determinado acontecimento. Parece que faltam palavras para poder descrever com detalhes um fenômeno que se apresenta e, a princípio, parece de fácil assimilação. Nosso cérebro tenta buscar em vão a descrição do “fato” em si, como eu estou tentando agora detalhar neste texto para você. Por mais que eu escreva, se eu tentar mais tarde, escreverei de outra forma e assim o farei até o final dos tempos.
Nossa capacidade de criar “versões” é infinita e mudará sempre que houver alguma alteração no meu conjunto de valores, experiências e conhecimento. Da próxima vez que alguém pedir para você narrar algum “fato”, lembre-se que você será capaz apenas de dar uma “versão” daquele acontecimento com base no que você é até o referido momento. Amanhã será outro dia e com ele novas “versões” aparecerão sobre os acontecimentos anteriores. Tem um ditado que diz: “O futuro muda o meu passado”. Estranho? Nem tanto. Quanto mais você vive, mais experiências, conhecimentos e valores você adquire. Isso faz de você uma pessoa diferente, capaz de olhar o passado, no futuro, e dar uma nova versão.
Xiko Acis
Filósofo & Consultor
www.xikoacis.com.br
Outono/2010.