O sobrevivente.
O homem parecia um desses personagens de filmes de naufrágio. Bem, na verdade ele era sobrevivente de um naufrágio. Barba grande, devido ao longo período naquele lugar e seus cabelos negros teimavam em tapar-lhe os olhos pequenos, que ele afastava com as mãos, enquanto caminhava de um lado para outro, como que pensando em alguma maneira de sair dali. 1,80m de altura, pernas ligeiramente arqueadas, com um andar gingado próprio dos marinheiros. À sua frente, a imensidão do mar. À direita, uma faixa de areia que parecia não ter fim. Á esquerda, o longo paredão rochoso. Ele não entendia como conseguira chegar até ali nadando e, muito menos, como conseguira levar consigo aquela caixa de garrafas, que ele descobriu logo se tratar de vodka. Aquele lugar parecia devorá-lo e ele estava louco para poder ir embora. Para enfrentar a solidão, ele abriu uma garrafa e deu um longo trago. Depois outro e outro até esvaziar a garrafa.
Ficou perplexo ao ver que não ficou “muito ruim”, já que quase nunca bebera na vida. Ao terminar a garrafa, teve uma idéia. Pegou um pedaço da caixa e uns restos de carvão da fogueira que fizera anteriormente e rabiscou com mãos trêmulas, um pedido de socorro. Colocou-o dentro da garrafa, tapou e lançou-a o mais longe possível da praia, para ver se alguma corrente a levava. No outro dia, repetiu a operação. Fez isto durante onze dias seguidos, até que viu pesaroso, que restava apenas mais uma garrafa. Pegou-a e sorveu quase um terço do seu conteúdo com sofreguidão. Depois, levantou-a a altura dos olhos, achando que aquele líquido era muito precioso para ele. Dias depois, já resgatado e em casa, viu-se no supermercado, comprando garrafas de vodka e descobriu que se tornara alcoólatra.