DEPOIS DE ENCONTRADO

Hoje foi domingo. Preciso considerá-lo passado por que já passou um minuto da meia-noite... agora dois, acabei de observar no relógio.

O relógio me observou de manhã. Domingo de manhã fui acordado cedo pelo despertador do relógio que me esqueci de desativar. Deveria ter desativado o domingo antes de encarar as horas, antes de considerá-lo passado.

Passei — acordado cedo num domingo — pelo caminho do passado. Cheguei muito perto dos traços que risquei naquela estrada de terra. Antes de o asfalto cobrir a terra, escrevi nela o que hoje procurei.

Encontrei tudo o que busquei. Buscava a criança que riscou o caminho e ela sorria na foto em cima da mesinha do meu quarto todos os dias de manhã.

Encontrei tudo o que sabia que encontraria. A casa em ruínas ruía, a terra da antiga estrada surgia nos cantos do asfalto. Encontrei-me na procura de mim mesmo.

Estranho que mesmo depois de encontrado exista o vazio que não foi preenchido com o retorno à minha cidade. Encontrei minha cidade em ruínas e o vazio existe. Talvez seja a falta de ratos e de lixo se espalhando para alimentar estes ratos. Vejo meninos, vejo suas ruínas e não há lixo para alimentá-los. Vejo os homens que em meu tempo de criança eram meninos, vejo suas ruínas.

O caminhão retira o lixo e os ratos não somem assustados. Não há um peste como pensei que houvesse.

Deveria existir uma peste. Algo qualquer deveria existir pra que eu pudesse dizer que acordei cedo num domingo de manhã por que me esqueci de desligar o despertador. Se houvesse uma peste, eu poderia dizer que antes era melhor e não teria encontrado tudo como esperava encontrar.

Faltam-me ratos e pestes.

Triste encontrar os meninos em ruínas. Naqueles rostos encontrei os meus. Vários rostos todos os dias de manhã, a cada dia da semana. Todos os dias de manhã o rosto na foto sobre a mesinha me fazendo acordar. Hoje foi domingo e já é uma da manhã.

É segunda-feira, me visto dela.