Vai e Volta

No início da minha mania de ensinar tinham tirado de nosso alfabeto as letra k, w e y. Tudo bem para quem começasse a aprender a partir daquela data, mas para quem já vinha com o “abc” decorado, como cantiga, as letras apareciam como por encanto no meio das outras e não tinha como tirá-las. Pode-se tirar do alfabeto, mas não se pode tirá-las da cabeça de um aluno que volta para tentar entrar no ginásio, após algum tempo de afastamento, e tem que prestar exame de admissão para que seja classificado e considerado apto. Sim. Naquele tempo havia “vestibular” para ser admitido no ginásio, ou seja, 5ª série.

Minha classe era de alunos de várias idades e uma jovem logo foi falando: “O alfabeto que conheço é diferente desse que eles estão falando.” De nada adiantou dizer a ela que a mudança era pequena, pois a diferença de três letras ficou muito estranho. Onde foram parar as Kelly, Karina, Erika, Myriam ou os Wesley, Washington, Clayton de sua infância. Não havia como deixar claro que as letras não estavam lá, mas continuavam lá. Como abolir e ao mesmo tempo deixar ficar. Desisti de explicar e ela desistiu de continuar o curso, com a certeza que jamais entraria no ginásio de uma escola tão mudada.

Hoje temos o inverso, e gostaria muito de voltar a encontrá-la. Se estiver lendo esta crônica, querida, entre em contato comigo. As letras voltaram....

Os jovens de hoje querem saber onde enfiam essas letras. Fácil: no mesmo lugar de antigamente.

- “Como posso enfiar o K antes do L. Sempre foi o lugar do J.”

O sempre não é mais do que algumas décadas e já se tornou uma eternidade. Se o mar hoje é verde e amanhã é cinza todos entendem e aceitam. Difícil aceitar as mudanças dos homens.

Ana Toledo
Enviado por Ana Toledo em 20/04/2010
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