"MUDEI PRA CASA DA LENA"
Essa era a frase: “Mudei pra casa da Lena”. Estava escrita numa plaquinha de madeira pregada junto ao muro de uma modesta casa. Achei graça na simplicidade. As letras tortas, o “s” de casa, torcido ao contrário, diziam sobre a pessoa também modesta que deixara o simpático recadinho.
Olhei a casinha. Como seria o antigo morador que se mudou pra casa da Lena? Uma pessoa jovem cansada de ser sozinha? Uma senhora idosa e já adoentada? Um velho pai que precisava da companhia de um filho? Um pai de família (e a família) que não deu conta do aluguel?
Como seria antes a vida na casinha? Uma vidinha feliz? (simples, já se podia adivinhar). Uma vida complicada cheia de percalços e desilusões? Uma vida alegre de domingos animados? Uma vida comum de pessoas que trabalham o dia todo pra voltar à noite e descansar sossegadas?
Como ficaria agora a casinha sem os antigos moradores? Atrás do muro um jardinzinho abandonado? Bananeiras morrendo no quintal? Um galinheiro meio caído? Uma bacia velha plantada com cebolinha, uma cabaninha de cachorro abandonada? Aliás, se tinham cachorro será que o levaram pra morar também na casa da Lena?
E Lena, quem seria? Uma amiga? Uma irmã? Difícil saber, mas devia ser alguém solidário, de bom coração. Afinal, hoje em dia não está fácil quem dê guarida aos outros com facilidade. Ora, bolas! A vida pela hora da morte... Não dá pra ficar aceitando gente vindo morar, assim, sem mais nem menos... Não é essa a realidade da maioria da população?
Nada mais além sei sobre essa história. Só sei que o antigo morador devia ser alguém do bem. Completamente do bem. Uma pessoa de finíssima educação. E por ser assim, não ia querer jamais que gente de sua convivência desse com a cara no portão quando fosse visitá-lo. Por isso, aquela brilhante ideia “Mudei pra casa da Lena”. Detalhe superimportante: a visita tinha que ser gente da mais absoluta confiança, de intimidade mesmo! A ponto de saber tudo de sua vida. Começando por saber onde era casa da Lena...