VISÃO DO MAR
Gosto do mar. Se fosse possível eu bem que desejaria que Poseidon me fizesse Proteu e me permitisse saber de todas as coisas, passadas, presentes e futuras e que me atribuísse também, o puder de transmudar à vontade em múltiplas formas: uma flor, uma canção, uma poesia, um nada . E um nada feito, que me concedesse o direito de viver à margem das preocupações da humanidade.
Naturalmente, Poseidon não me tansformará em Proteu nem tampouco o serei o de Morris West, personagem do seu romance de denúncia que leva o mesmo nome.
E se gosto tanto do mar, só me resta reconhecer, tal qual a poeta portuguesa, Sophia de Mello Brayner Anderson,(1919/2004) que parte de mim é feita de maresia e que o mar representa a extensão do meu “eu” lírico, não querendo dizer com isto que me vejo à altura poética da única mulher portuguesa que ganhou em 1999 o prêmio maior da literatura de seu país: Prémio Camões. Admiro a sua poesia tão somente, suas palavras me tocam e como ela afirmou “ a palavra de um poeta, tocando o ponto exato, abala os cantos profundos de nosso ser."
Em um dos seus poemas, pede ela (palavras textuais suas) ao Senhor para libertá-la do jogo perigoso da transparência e afirma que no fundo do mar da nossa alma não há corais nem búzios, mas sufocado sonho e não sabemos bem que coisa são os sonhos se condutores silenciosos canto surdo que um dia subitamente emergem no grande pátio liso dos desastres
Mar... “Mar sonoro, mar sem fundo mar sem fim / A tua beleza aumenta quando estamos sós”.