O ABRAÇO DA MORTE
Lá pelas bandas do Rio do Jacaré, em um pequeno povoado, perto de uma ribanceira, conheci um local em que ocorria o “abraço da morte”. Sim, sem rodeios, era o famoso abraço da morte, isto é, existia um fantasma que corria atrás das pessoas de braços abertos querendo abraça-las, custe a que custar.
Sem medo, após conversar com os moradores da região, montei em um cavalo e sai para procurar o abraço da morte.
Era noite, lá pelo sul aparecia um forte clarão. Eram algumas rajadas de relâmpago que prometia um pouco de chuva.
Perto da Fazenda da Gameleira, debaixo de uma árvore, encontrei dois senhores que estavam correndo. Vinham de uma pescaria e me disseram que viram o fantasma do “ Abraço da morte”. Fiquei um pouco pasmo, mas sozinho, sem nenhuma arma, somente com um cavalo já velho e cansado, uma lanterna e um celular que tocava lindas músicas, ia eu para desvendar este novo mistério.
No pé da serra, pude olhar para o céu. Vi muitas estrelas, vi constelações e até Marte. Lembrei do grande astrônomo chamado Carl Sagan, em sua série “ Cosmos” o quando é importe olhar para o céu e sentir que somos tão pequenos e singelos, que não sabemos onde estamos.
Sim, perdido na noite, com chuva aproximando e alguma estória para contar e colher material para meu livro, despenquei com meu cavalo ladeira abaixo. Via vaga-lumes que dançavam uma bela valsa, ouvia sapos e pererecas que cortavam a noite com seus chiares que pareciam uma orquestra natural. Era bonito, sempre foi bonito.
Por um instante esqueci que estava nesta missão, da qual era tão importante para mim. Pensava, se tivesse trazido minha barraca, eu acamparia naquele local. Faria uma fogueira, assaria uma carne bem passada e até aventura comer pipocas, sem sal.
Era noite tão linda, apesar dos relâmpagos, de um calor enorme.
Segui rumo à serra. A cada passada do cavalo eu balançava todo, quase caia. Pensei porque não fui de bicicleta, mas não enxergava, poderia cair e ser uma vítima fatal para o “Abraço da Morte”.
Os meus pensamentos foram embora. Ficavam sempre na expectativa de encontrar minha procura.
Os passos do cavalo cortavam o silêncio da noite naquele local.
Parei no referido lugar em que os senhores do caminho atrás me disseram e prontifiquei em esperar. Passaram-se horas e em um determinado momento, vi um vulto próximo de um cupim. Era grande, de feição branca e caminhava como se fosse algo de braços abertos em direção oposto, ora para meu lado, ora para outro lado. Pensei em correr, mas como não tenho medo, senti o momento de fotografar. Tirei algumas fotos e o tal vulto se despertou com as luzes da máquina fotográfica. Que desconsolo...
Não deu outra. A criatura abriu os braços e veio para meu lado. Meu cavalo, de tanto medo, deu um “pinote” para trás e me derrubou. Meio abalado, somente vi o animal sair correndo. Eu, no chão, meio machucado no bumbum, não tive outra escolha: sai correndo em direção a uma árvore. Que coisa boa. Em um toque de mágica, já estava no alto da árvore e o tal fantasma de braços abertos lá embaixo, como se aguardava sua presa.
O tempo passou. A madrugada começava a acabar e o sol dava algum sinal. Porém, entre este intervalo, caiu um forte tempestade. Molhei todo, não tinha nenhum aparato para me abrigar. A única coisa era minha blusa, da qual fiz uma pequena proteção para abrigar minha cabeça da chuva.
Durante todo este tempo, o fantasma ficava debaixo da árvore de braços abertos. Ficou até o amanhecer.
Quando amanheceu e aos poucos a claridade ia surgindo, minha surpresa maior foi constatar que tal fantasma era, na verdade, um tamanduá, daqueles bem grandes, que ao avistar as pessoas ou animais, ficava em pé e abria o braços. Não sei se era para intimidar quem se aproximasse ou se era uma forma de defesa.
Fotografei o animal, de vários ângulos e só pude descer da árvore quando o animal foi embora.
Ora que fiquei em cima da arvore pelo menos umas doze horas.