UMA VELHINHA EM TAUBATÉ (favor não confundir)
O telefone tocou, fui atender. Uma voz de senhora (bem idosa) pediu para falar com meu pai. Sem saber direito como me safar da situação (papai morreu há doze anos) eu disse que ele não estava. Ela quis saber se voltaria logo. Não, ele vai demorar, está viajando, adiantei. E perguntei se ela não queria deixar um recado, ou o seu nome. Sem dizer nada a mulher desligou.
No dia seguinte ela telefonou outra vez. Tive que repetir que papai se encontrava em viagem... Então ela disse que queria falar com o Janjão. Essa não, pensei, agora piorou. Esse meu tio já se foi há quase trinta anos! Se eu disser, ela é quem vai morrer... Aqui não é a casa do Janjão, eu não sei o telefone dele, foi o que me ocorreu no momento. E perguntei novamente o seu nome. Maria, ela disse, e desligou.
No terceiro dia ela atacou novamente. Queria falar com qualquer um dos “rapazes”. Sabendo que seria impossível, ela não se deixou abater: mas o Antonio esta aí, não é... chame ele pra mim.
Putz, por essa eu não esperava! Aí eu incrementei a história dizendo que os três irmãos resolveram fazer uma longa viagem, não sabíamos quando voltariam. Ah! então eu ligo outra hora...
E não ligou mais.
A danada da senhora conseguiu me deixar curiosa. Quem seria? Teria sido namorada de papai?... do Janjão?... ou do Antonio, talvez...
E que idade teria ela? Pra mais de noventa, suponho. Pois papai, o mais jovenzinho dos três, se vivo fosse, estaria beirando o centenário...
E cá do meu lado, fiquei imaginando a cena: tal qual uma adolescente, a velhinha estava louca para bater um papo com os “rapazes”... Colocar as novidades em dia... Teve a pachorra de procurar no catálogo e achou uma pista. Esperava a filha e os netos saírem de casa, ou se distraírem... e... toda eufórica, ligava!
Infelizmente não deu certo.
Nem para ela, nem pra mim. Jamais vou poder satisfazer esta minha curiosidade.
...A não ser que qualquer dia desses ela ataque novamente e eu consiga pegá-la de jeito...