O FUTURO NA MOCHILA

Ao passar (de moto) próximo a uma escola pública na periferia de minha cidade, vi uma cena que foi como um relâmpago (que encanta e assusta ao mesmo tempo); uma menina! Devia ter uns dez anos. Magrinha, branquinha, cabelos castanhos nos ombros. Ela caminhava sozinha (não é fácil ser mais amiga dos livros do que de brincadeiras, pensei) e completamente absorta em seus pensamentos. O vento levantava um pouco os seus cabelos, embora não ventasse muito, e isso dava a impressão de que era ele quem a carregava.

Ela usava uma blusinha de farda de escola, short nos joelhos e uma sandalinha de dedos, tudo muito simples. Mas o que realmente chamava a atenção era a sua mochila, onde estava o seu material escolar. A mochila era de tecido, parecia gasta, porém estava muito limpa, isso me fez pensar se haveria uma mãe zelosa em casa para tê-la mandado ainda antes do horário para a escola.

Ela caminhava devagar, mas decidida. Parecia não ver nada a seu redor, só em sua mente. Como se seu corpo soubesse aonde ir e a levasse, deixando sua mente livre para andar por outros lugares, menos feios, menos tristes e menos estranhos para ela. Lugares onde pudesse ser a princesa de todas as histórias que leu e escrever suas próprias histórias.

Não deu tempo de ver seus olhos direito, mas o rostinho redondo parecia ser de uma criança bem mais nova. Tudo nela significava inocência e vulnerabilidade. Seus passinhos solitários e sua mochila cheia de livros, cheia de sonhos, me fez perguntar se ela conseguiria realizá-los. Tive vontade de parar, abraçá-la, beijá-la, levá-la para casa e cuidar para que não a machucassem, não a fizessem infeliz. Queria escondê-la do mundo sujo que não a merece. Queria pelo menos olhar em seus olhos e dizer o quanto ela era especial e que precisaria ser corajosa e ter esperança. Mas não pude! Menina, me perdoe por não ter feito isso! Uma menina caminhando com os mesmos passos de outras meninas iguais a ela! Uma menina carregada de luz, de sofrimento e de sonhos! Uma menina que carregava o futuro em sua mochila! Provavelmente nunca mais a verei, mas sinto que nunca poderei esquecê-la.

Depois de passado o relâmpago, pude pensar. E agora eu sei. Já tinha visto aquela menina antes. E ela...era eu!

Neuminha
Enviado por Neuminha em 19/04/2010
Reeditado em 09/10/2018
Código do texto: T2206040
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