Lealdade

Lealdade não é como uma fotografia antiga, que vai parar um dia desses em uma caixa, no fundo de uma gaveta, em um guarda-roupa qualquer. Lealdade se veste e se reveste, não como um traje de festa, que se exibe e se ostenta em dia determinado, mas que depois retorna para seu canto escuro do armário. Antes disso, lealdade é como os batimentos cardíacos, que estão sempre presentes, muito embora não sejam percebidos, e só cessam com a morte, muito embora me pareça que a lealdade avança para além dela.

Lealdade, mais do que respeito pelo outro, é saber amar a si próprio, é ser leal com sua própria existência, que é tão demasiadamente curta para que não sejamos leais com nossos próprios sentimentos, com a nossa liberdade de ser, crer e agir. Lealdade é saber o momento de iniciar e terminar uma história, respeitando os pontos e vírgulas, até o ponto final que define todas as coisas. E mesmo que o final das histórias sejam felizes ou tristes, lealdade é saber virar a página, iniciar o novo, pisar no desconhecido, ser leal com a força divina que nos impulsiona para a vida.

Ser leal é viver sem medo de olhar os demais seres humanos nos olhos, sem medo da verdade, por mais dura que seja. Ser leal é ser verdadeiro, abominar a mentira, elevar o espírito para o que é bom e justo. É perseguir a verdade, pois a verdade é o espelho da virtude que habita em cada ser humano.

Ser leal é se dar conta, enquanto ainda há tempo, de que só vivemos felizes de verdade nesta vida quando aprendemos que o que nos faz feliz depende de tão pouco. Ser leal é parar de correr atrás do vento, correr atrás do tempo e do dinheiro, e admitir que um grande amor, um olhar de uma criança, uma rosa, um afago de um cãozinho, estão tão perto de nosso alcance que basta esticar os dedos e tocar a felicidade.

Ser leal é não desprezar a porção daquilo que nos é concedido de graça, é viver intensamente cada segundo com sentimento de gratidão, é viver pela simples e pura vontade de ser feliz.