Palhaço na linha do gol
Meu glorioso Botafogo Futebol e Regatas foi campeão carioca em cima do Flamengo. Portanto, são duas alegrias a serem contabilizadas neste domingo chuvoso e gostoso.
Meu pai, flamenguista, depois do jogo telefonou para dizer que estava torcendo para o Botafogo. Torcedor solidário como este, só pai mesmo.
Durante a transmissão da partida, o locutor informa que Jéferson, goleiro do Botafogo, foi palhaço de circo. “Uma bela história de vida”, acrescentou o narrador. Recordei na hora de um goleiro que conheci em Itabaiana. Quem é de minha geração lembra do João do Boi, goleiro do também glorioso União Futebol Clube. Meu pai era presidente do time. João do Boi ficou conhecido nem tanto pelas defesas que fazia no gol, mas principalmente pelo seu jeito irreverente e debochado de jogar bola. Todo mundo, incluindo o juiz e os adversários, caía na gargalhada com as presepadas de João do Boi. Era um palhaço vestido de goleiro.
Eu era garoto, mas lembro bem que as pessoas diziam a respeito do goleiro gaiato: se não fosse tão moleque, poderia ser um profissional.
Não sei onde anda João do Boi hoje. Sua profissão era levar bois brabos para o matadouro, daí o apelido. Ficou na memória a alegria desse atleta surpreendente, dando molho especial a um esporte onde predomina a truculência e intolerância.
Dedico a vitória do Botafogo a João do Boi, o goleiro que era palhaço. E ao Jéferson, o palhaço que virou goleiro.