A QUATRO CENTÍMETROS DA FELICIDADE
Toda vez que ligo a televisão e dou de cara com o bendito anúncio onde um casal de bonitinhos vende quatro centímetros de suposto emagrecimento, seja o que for que esteja fazendo, paro – literalmente – embasbacada. Estaco, eu toda, meus cinco – sextos e possíveis vigésimos se os tivesse – sentidos se grudam na telinha como se poderosa mão me pegasse pela nuca e colasse lá, minha face, sem que tivesse eu qualquer força para evitar.
Porque gosto não, se pensaram assim. Impressiona-me a cara de pau desses bonitinhos, que brincam com as frustrações, com a vaidade-motivo do medo da rejeição, com o significado de beleza e valores que estão por aí, invadindo o mundo.
Trazem lá um modelo utilizando a peça miraculosa, que não aparece por baixo do maravilhoso vestido ou do cintilante lingerie, como se todo aquele corpo prodigioso fosse o resultado do tal milagroso produto. Primeiro passo da brincadeira com o telespectador interessado, que com certeza já foi socado com uma direita poderosa.
Depois, vem lá uma outra modelo, tão rapidamente que não dá tempo da interessada ou interessado, quem sabe, notar determinadas diferenças, gritantes – mas dissolvidas no amortecimento do soco anterior – de uma e outra. Como visão de bêbado, diante do poste. “To vendo!” Aaai!
A segunda modelo já é uma senhora, dessas que tantas temos por ai sem dinheiro nem tempo para frequentar academias ou similares (nada contra malhar!), com meia dúzia de moleques já bem-criados graças a Deus. E então, a mágica avassaladora, o santo milagre: com a peça vestida, não é mais a mesma. A barriga sumiu, o bumbum e o peito deram um salto em direção aos céus e, enfim, com quatro, seis centímetros a menos. Felicidade!
A Edvirge – se escreve mesmo assim – chega em uma dessas horas. “Mas essa mulherada não se enxerga, não, patroinha? Ô gente boba! Enfiar essas calçolas até os peitos, um troço apertado que nem dá pra respirar... Hum, hum! Já pensou se uma hora precisa abaixar e essa coisa enrola toda?” Imaginando a cena, tive que rir.
Fico a pensar em quem não se aceita mais ou menos gordinho, em quem se acha detestável por não ter um corpão violão... O mundo é cruel! Mas, se é, muitas vezes porque conta com a permissividade de quem dele faz parte. Acho bárbaro quem consigo mesmo faz isso: acreditar que valha mais ou menos porque, nem é emagrecer, diminui em quatro centímetros seu abdômen. E ainda ser feliz por isso!
Por fim mudo de canal, indignada, e me pergunto: Se feliz, quantas falsas felicidades, será, custa?
Toda vez que ligo a televisão e dou de cara com o bendito anúncio onde um casal de bonitinhos vende quatro centímetros de suposto emagrecimento, seja o que for que esteja fazendo, paro – literalmente – embasbacada. Estaco, eu toda, meus cinco – sextos e possíveis vigésimos se os tivesse – sentidos se grudam na telinha como se poderosa mão me pegasse pela nuca e colasse lá, minha face, sem que tivesse eu qualquer força para evitar.
Porque gosto não, se pensaram assim. Impressiona-me a cara de pau desses bonitinhos, que brincam com as frustrações, com a vaidade-motivo do medo da rejeição, com o significado de beleza e valores que estão por aí, invadindo o mundo.
Trazem lá um modelo utilizando a peça miraculosa, que não aparece por baixo do maravilhoso vestido ou do cintilante lingerie, como se todo aquele corpo prodigioso fosse o resultado do tal milagroso produto. Primeiro passo da brincadeira com o telespectador interessado, que com certeza já foi socado com uma direita poderosa.
Depois, vem lá uma outra modelo, tão rapidamente que não dá tempo da interessada ou interessado, quem sabe, notar determinadas diferenças, gritantes – mas dissolvidas no amortecimento do soco anterior – de uma e outra. Como visão de bêbado, diante do poste. “To vendo!” Aaai!
A segunda modelo já é uma senhora, dessas que tantas temos por ai sem dinheiro nem tempo para frequentar academias ou similares (nada contra malhar!), com meia dúzia de moleques já bem-criados graças a Deus. E então, a mágica avassaladora, o santo milagre: com a peça vestida, não é mais a mesma. A barriga sumiu, o bumbum e o peito deram um salto em direção aos céus e, enfim, com quatro, seis centímetros a menos. Felicidade!
A Edvirge – se escreve mesmo assim – chega em uma dessas horas. “Mas essa mulherada não se enxerga, não, patroinha? Ô gente boba! Enfiar essas calçolas até os peitos, um troço apertado que nem dá pra respirar... Hum, hum! Já pensou se uma hora precisa abaixar e essa coisa enrola toda?” Imaginando a cena, tive que rir.
Fico a pensar em quem não se aceita mais ou menos gordinho, em quem se acha detestável por não ter um corpão violão... O mundo é cruel! Mas, se é, muitas vezes porque conta com a permissividade de quem dele faz parte. Acho bárbaro quem consigo mesmo faz isso: acreditar que valha mais ou menos porque, nem é emagrecer, diminui em quatro centímetros seu abdômen. E ainda ser feliz por isso!
Por fim mudo de canal, indignada, e me pergunto: Se feliz, quantas falsas felicidades, será, custa?