ENTRE RESFRIADO E DORES DE GARGANTA
Sábado da semana passada, numa formação de matemática – para professores do ensino fundamental – estava eu a falar sobre o término de um módulo (Grandezas e Medidas) e dando início ao módulo seguinte (Geometria) quando a garganta foi para o espaço, mesmo eu tendo ficado no plano. Para completar o processo de assimilação, de volta da aula, tomei banho, em casa, com água “pegando fogo”.
Adivinhem o que aconteceu! Isso mesmo. “Arriei” de vez. Final de sábado e o domingo, inteiros, com o corpo febril e a garganta queimando mais que azia provocada por batata doce quente comida junto com um pedaço de rapadura preta e, para completar a mistura, descidos com um copo d’água bem gelado. Mas, o pior não foi isso. Segundo uma colega minha – bióloga – me disse, o corpo deve reagir sozinho às suas infecções. Que, para gripes e derivados, não se fazia necessário tomar nenhum tipo de remédio. Logicamente, ela não incluiu aí o problema da garganta. Eu sim.
Teimoso como todo taurino, eu cismei que minha garganta se curaria mediante a reação dos meus anticorpos. Antes, porém, “pegue” febre. Contudo, ainda ouvindo as palavras da nobre colega: “se chegar perto de 40 é bom tomar um antitérmico”, eu fiquei de olho na subida da temperatura. Não foi preciso. Por incrível que pareça, o corpo reagia e, lá pelas quatro da matina (do sábado para o domingo e do domingo para a segunda) a febre abrandava e eu suava um pouco. Um bom sinal, eu pensava.
Só pensava. Na segunda, logo pela manhã, um novo desafio para as cordas vocais: participar de um treinamento sobre o programa ProJovem, dentro de um auditório onde as duas centrais de ar estavam reguladas na temperatura de 18 graus. Para mim, que sou “friento”, um verdadeiro frigorífico. Não deu outra. Final de tarde, voltando para casa, a primeira parada – claro, não aguentando mais a “travada” que a garganta deu (até para tomar água foi preciso “socar” goela abaixo) –, foi no Pronto Socorro – UPA do bairro Alto de São Manuel. Lá, depois de fazer a famosa “ficha”, fui encaminhado para a Técnica em Enfermagem. Como todo leigo, já fui chamando-a de “doutora” e abrindo a boca para ela olhar o estrago na garganta.
- Desculpe, senhor. Não sou a médica. Apenas verifico a pressão e encaminho para o especialista, disse a nobre atendente.
Depois de verificar a pressão (por sinal, de um menino: 10/8), fui encaminhado para o médico de plantão: doutor Vinicius. Antes, uma nova atendente para segurar a fila. Como eu era o primeiro, calculei em 10 minutos, no máximo, a minha permanência ali dentro. Calculei mal. Esqueci-me das urgências. Assim que o médico chegou para me atender, a primeira urgência. Nem deu tempo de falar alguma coisa, muito menos de abrir a boca. Passados uns dez minutos, quando ele ia voltando, a segunda urgência. Desta vez, eu já estava ensaiando abrir o bocão, mas tive que fechar, rapidamente, para não passar vergonha diante dos outros “esperantes”.
Finalmente, depois de trinta minutos, ele estava de volta. Um pouco cansado, mas atencioso como todo bom médico que atende em urgências. Expliquei-lhe do que se tratava, ele me mandou abria a boca e falar “A”.
- Você é fumante? – perguntou-me.
- Ex-fumante há três anos e quatro meses, disse-lhe com muito orgulho (o danado é que não se esquece um só instante de cada minuto passado sem colocar um maldito cigarro na boca!)
- É alérgico? – continuou a perguntar.
- Só a flamenguista, respondi-lhe ainda magoado com o meu Vasco que havia perdido, na véspera, para o arquirrival, o direito de disputar a Taça Rio com o Botafogo.
- Bem, vou passar três injeções para você. Uma para desinflamar a garganta, outra para combater a febre e a outra para a gripe que se instalou. Certo?
- Certo. Agradeci.
Enquanto me dirigia para o lado da enfermaria, eu me arrependi de ter dito que a única alergia que tinha era do Flamengo. Acho - não tenho certeza - que o danado do médico era flamenguista. Imagina, então, se o Flamengo tivesse perdido! Ele teria me passado seis compostos de injeções.
Enquanto esperava as dosagens serem feitas, observei, ainda, uma jovem senhora reclamar de um enfermeiro que abriu a porta da sala da Técnica em Enfermagem e quase atropelou a criancinha dela. A pobre criança – como toda criança – saiu do colo da mãe e foi para perto da porta. O profissional, sem paciência para bater antes de entrar, abriu-a abruptamente. Resultado: a criança foi levada pelo impacto e caiu aos pés da mãe. Princípio de discussão, o funcionário público, de certo modo, foi bruto e arrogante ao dizer que a jovem mãe era uma irresponsável por não cuidar da sua cria e que ele não precisava pedir permissão para entrar em qualquer sala dali.
Concordo que ele não precisa de permissão. Lógico. Porém, usar do bom senso de que por trás de cada porta daquela ele só vai encontrar pessoas precisando de auxílio é, no mínimo, uma obrigação sua saber.
E que, em nenhum momento, ele pode proferir palavras grosseiras para quem quer que seja, pois está ferindo o seu código de ética, ainda mais, sabedor que ele trabalha com vidas e que elas quando se dirigem para o local de trabalho dele é porque a vida delas precisa da ajuda profissional dele e não de ouvir desaforo de quem não está num bom dia de trabalho. Lamentável.
Finalmente, as minhas injeções. “Derribei” as calças, levei duas picadas na região glútea e, a terceira, direto na veia. Hoje, uma quinta feira, a garganta continua “queimando”, a gripe está “meia boca” e a febre... Ah! Essa não voltou, graças a Deus...
Sábado da semana passada, numa formação de matemática – para professores do ensino fundamental – estava eu a falar sobre o término de um módulo (Grandezas e Medidas) e dando início ao módulo seguinte (Geometria) quando a garganta foi para o espaço, mesmo eu tendo ficado no plano. Para completar o processo de assimilação, de volta da aula, tomei banho, em casa, com água “pegando fogo”.
Adivinhem o que aconteceu! Isso mesmo. “Arriei” de vez. Final de sábado e o domingo, inteiros, com o corpo febril e a garganta queimando mais que azia provocada por batata doce quente comida junto com um pedaço de rapadura preta e, para completar a mistura, descidos com um copo d’água bem gelado. Mas, o pior não foi isso. Segundo uma colega minha – bióloga – me disse, o corpo deve reagir sozinho às suas infecções. Que, para gripes e derivados, não se fazia necessário tomar nenhum tipo de remédio. Logicamente, ela não incluiu aí o problema da garganta. Eu sim.
Teimoso como todo taurino, eu cismei que minha garganta se curaria mediante a reação dos meus anticorpos. Antes, porém, “pegue” febre. Contudo, ainda ouvindo as palavras da nobre colega: “se chegar perto de 40 é bom tomar um antitérmico”, eu fiquei de olho na subida da temperatura. Não foi preciso. Por incrível que pareça, o corpo reagia e, lá pelas quatro da matina (do sábado para o domingo e do domingo para a segunda) a febre abrandava e eu suava um pouco. Um bom sinal, eu pensava.
Só pensava. Na segunda, logo pela manhã, um novo desafio para as cordas vocais: participar de um treinamento sobre o programa ProJovem, dentro de um auditório onde as duas centrais de ar estavam reguladas na temperatura de 18 graus. Para mim, que sou “friento”, um verdadeiro frigorífico. Não deu outra. Final de tarde, voltando para casa, a primeira parada – claro, não aguentando mais a “travada” que a garganta deu (até para tomar água foi preciso “socar” goela abaixo) –, foi no Pronto Socorro – UPA do bairro Alto de São Manuel. Lá, depois de fazer a famosa “ficha”, fui encaminhado para a Técnica em Enfermagem. Como todo leigo, já fui chamando-a de “doutora” e abrindo a boca para ela olhar o estrago na garganta.
- Desculpe, senhor. Não sou a médica. Apenas verifico a pressão e encaminho para o especialista, disse a nobre atendente.
Depois de verificar a pressão (por sinal, de um menino: 10/8), fui encaminhado para o médico de plantão: doutor Vinicius. Antes, uma nova atendente para segurar a fila. Como eu era o primeiro, calculei em 10 minutos, no máximo, a minha permanência ali dentro. Calculei mal. Esqueci-me das urgências. Assim que o médico chegou para me atender, a primeira urgência. Nem deu tempo de falar alguma coisa, muito menos de abrir a boca. Passados uns dez minutos, quando ele ia voltando, a segunda urgência. Desta vez, eu já estava ensaiando abrir o bocão, mas tive que fechar, rapidamente, para não passar vergonha diante dos outros “esperantes”.
Finalmente, depois de trinta minutos, ele estava de volta. Um pouco cansado, mas atencioso como todo bom médico que atende em urgências. Expliquei-lhe do que se tratava, ele me mandou abria a boca e falar “A”.
- Você é fumante? – perguntou-me.
- Ex-fumante há três anos e quatro meses, disse-lhe com muito orgulho (o danado é que não se esquece um só instante de cada minuto passado sem colocar um maldito cigarro na boca!)
- É alérgico? – continuou a perguntar.
- Só a flamenguista, respondi-lhe ainda magoado com o meu Vasco que havia perdido, na véspera, para o arquirrival, o direito de disputar a Taça Rio com o Botafogo.
- Bem, vou passar três injeções para você. Uma para desinflamar a garganta, outra para combater a febre e a outra para a gripe que se instalou. Certo?
- Certo. Agradeci.
Enquanto me dirigia para o lado da enfermaria, eu me arrependi de ter dito que a única alergia que tinha era do Flamengo. Acho - não tenho certeza - que o danado do médico era flamenguista. Imagina, então, se o Flamengo tivesse perdido! Ele teria me passado seis compostos de injeções.
Enquanto esperava as dosagens serem feitas, observei, ainda, uma jovem senhora reclamar de um enfermeiro que abriu a porta da sala da Técnica em Enfermagem e quase atropelou a criancinha dela. A pobre criança – como toda criança – saiu do colo da mãe e foi para perto da porta. O profissional, sem paciência para bater antes de entrar, abriu-a abruptamente. Resultado: a criança foi levada pelo impacto e caiu aos pés da mãe. Princípio de discussão, o funcionário público, de certo modo, foi bruto e arrogante ao dizer que a jovem mãe era uma irresponsável por não cuidar da sua cria e que ele não precisava pedir permissão para entrar em qualquer sala dali.
Concordo que ele não precisa de permissão. Lógico. Porém, usar do bom senso de que por trás de cada porta daquela ele só vai encontrar pessoas precisando de auxílio é, no mínimo, uma obrigação sua saber.
E que, em nenhum momento, ele pode proferir palavras grosseiras para quem quer que seja, pois está ferindo o seu código de ética, ainda mais, sabedor que ele trabalha com vidas e que elas quando se dirigem para o local de trabalho dele é porque a vida delas precisa da ajuda profissional dele e não de ouvir desaforo de quem não está num bom dia de trabalho. Lamentável.
Finalmente, as minhas injeções. “Derribei” as calças, levei duas picadas na região glútea e, a terceira, direto na veia. Hoje, uma quinta feira, a garganta continua “queimando”, a gripe está “meia boca” e a febre... Ah! Essa não voltou, graças a Deus...
Obs. Imagem da internet