Amor de primavera
A felicidade inerente as coisas tolas da vida, caminhou em um destes momentos a dar-me um bom dia. Era o ar primaveril que jazia em meu inspirar. A janela de madeira propunha a visão vasta da vizinhança e da casa da frente repleta de flores e plantas, semanalmente regadas por uma mulher jovem, que a muito olhava no decorrer desses dias – felizes pela estação e ardentes pelo coração. Em um desses dias, pus-me a admirá-la, embora a observasse durante um tempo, nunca me coloquei minuciosamente os olhares gastos, que não revolverão como daquela vez. Apreciava muito sua delicadeza e suavidade, o modo como se movia e andava. As mãos brancas e límpidas, misturadas a água e ao verde das plantas, os olhares depositados nas flores coloridas e perfumadas. Cada mover dela, era original e harmônico. Seus olhos azuis refletiam o amor pelo que fazia e naquele instante ínfimo, ela perenizava a felicidade, adjacente aos sorrisos, em meio ao canto dos colibris e dos demais pássaros, que trazem consigo a primavera e os leva em seu fim; como a terra fará com as plantas; como o tempo fará com a mulher. Lembrá-la-ei sempre feliz e daquele modo, debruçada com seu vestido amarelo, sobre as plantas, em meio ao seu jardim, embaixo do reluzir solar e acima de qualquer luz. Fazia-me sentir-se imperceptível no mundo e o seu simples regar de flores a separava de todos, nada existia e nada a tocava tanto quanto aquele instante, singular e eterno aos meus olhos. Eu a amei. Eu a amo. Eu a amarei. Em cada primavera. Não como um homem ama uma mulher e sim como uma mulher ama uma rosa, até a sua morte e o fim de sua vida.