NO AMOR NEM TUDO É PERDIDO

Ao final de dois anos e meio de casamento, os dois já cansados de tanto brigar, discutir e lamentar decidiram então pela separação. Era óbvia a separação. Pra se ter uma idéia, não se procuravam como amantes há mais de um ano.

O casamento caíra num tédio irremediável, inabalável, infinito:

- Quero o divórcio!

- Até que enfim. – Comemorou como se fosse um gol do seu time do coração. – Achei que jamais fosse me pedir. Te dou o divórcio com tudo que você tem direito.

Houve uma pausa, e Márcia em voz baixa retruca:

- De você eu só quero o divórcio, a liberdade que eu perdi; perdi não, que você me arrancou e...

- Arranquei nada! Você se casou comigo porque gostava de mim.

- Disse bem; gostava.

- Que seja, se é só isso que você quer, eu te darei.

Três meses se passaram. Márcia movia a ação contra Geraldo. E durante esses três meses não trocaram uma palavra, um sorriso sequer. Mas havia no olhar de Márcia uma doçura inexplicável. Quando olhava Geraldo se preparando para dormir (na sala, pois já havia muito tempo que não mais dormia no quarto). Tinha no olhar um amor insuperável. Era infinitamente apaixonada.

Quando Márcia caiu na besteira de pedir o divórcio, era pra que Geraldo sentisse que a estava perdendo, mas ao invés disso, ele comemorou. Coisa que deixou Márcia numa tristeza terrível.

Certa noite porém, uma surpresa.

Geraldo, numa quarta-feira totalmente comum. Resolveu esticar um pouco. Foi a um happy hour com amigos do trabalho e bebeu vários chopes. Passou um pouco da medida. Chegou em casa ainda meio alto, preparou sua cama na sala e vestiu seu pijama. Antes de dormir teve uma curiosidade nova: espiar sua quase ex-mulher dormindo. Aproximou-se pé por pé, abriu a porta sem fazer barulho e viu. Naquele instante sentiu uma febre que o atacou na face, um fogo por todo o seu corpo.

Márcia estava deitada. Tinha o sono leve, mas não viu seu marido na porta. Usava uma lingerie preta, sensual a quaisquer olhos. Uma perna esticada, outra dobrada. A perna dobrada estava descoberta pelo lençol.

Geraldo num desejo carnal infinito, sentou-se ao pé da cama, passou a mão nas coxas da mulher, que despertou:

- Mas o que você está fazendo?

- Não! Não diga nada...só

E beijou-a numa sofreguidão tamanha, num desejo tão fantástico; que Márcia não pôde resistir, não teve reação. E retribuiu o beijo com a mesma fúria de desejo. E naquela noite amaram-se mais e melhor do que na primeira vez.

Na noite seguinte não houve cama na sala.

Renann Calazans
Enviado por Renann Calazans em 17/04/2010
Reeditado em 18/04/2010
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