ESPELHO, ESPELHO MEU...

A mulher quase não dorme. A madrugada se estende. Sono? Como dormir se o cérebro está acelerado? A dona de casa está impaciente com o passeio. Vai para São Paulo á uma exposição. Há quanto tempo não saí sem a família. A filha grudenta compra um celular para a mãe. Não consegue ficar longe da mãe.

O dia amanhece. Levanta pé ante pé para não acordar ninguém. Toma um café com leite e vai ao encontro das amigas. Em menos de vinte minutos estão a caminho da aventura paulistana.

O onibus acaba de sair da cidade; o celular toca. A filha preocupada. O sol invade o céu. A noite começa a amarelar. O celular toca. A filha grudenta. O calor aumenta. São Paulo, já pode ser vista por todos. O celular toca. Euforia.

“Estamos chegando em Sampa. “

Encontram o salão do Clube Pinheiros engalanado pela exposição. A maratona começa. Andam por todos os corredores. O tempo urge. Resolve não almoçar não pode perder tempo. Casa lotada. Mulheres andando, comprando, empurrando, falando. Vários celulares tocando.

Final de tarde. Barriga ronca de fome. Pés repletos de bolhas. Sacolas pesadas. Celular toca.

“Filha estamos subindo no onibus para voltar. Nossa! Quanta coisa linda eu vi. Estou um trapo de cansada. Acho que vou dormir um pouco na volta.”

A Marginal congestionada. Um caminhão tombado na pista. Tudo parado. A fome aperta. Cláudia lhe oferece umas bolachas água e sal. Celular toca.

“Ainda estamos em Sampa. Um acidente na pista. Falta pouco para entrarmos na Bandeirantes. Penso que daí vou dormir um pouquinho, tá.”

O onibus desliza na autoestrada. O sono amortece os pensamentos. O silêncio é interrompido. Um celular toca. Olhares questionadores procuram a dona do celular.

“Filha, por favor, todos querem tirar um cochilinho.”

Uma parada no Frango Assado. Rose desce. O cansaço lhe abate. Entra no WC e uma mulher passa ao seu lado.

“Nossa que mulher parecida comigo!Mas, um pouco mais velha. Nossa que cara amassada”

Ao abrir a torneira para lavar o rosto é que percebe que a mulher é o seu reflexo!”