Indulto emocional
As emoções se arrefecem. Ele sai de sua prisão interna. Não faz idéia quem assinou o indulto. Tampouco, quem o acusou, como foi julgado e condenado temporariamente. Isso é Kafka, talvez. Todos incriminados. É prisão sem possibilidade de fuga. Não há chaves nem carcereiro. Também não há celas nem companheiros. Uma prisão de cada um. Reclusão inevitável. Pra onde for, segue cumprindo penitência.
Olha pela vidraça da alma. O embaçado da transparência dificulta a nitidez dos fatos. É a chuva fina que cai. Prefere até não mirar olhos em nada, sobretudo em pessoas. E a pergunta se repete. Por que esta tristeza inesperada? Por que esses sentimentos?
Quando do indulto emocional, o indivíduo aposta vida nova. Alegria constante. Sente-se reabilitado. Acredita que aprendeu a lição. Mas, inesperadamente, o tempo muda. A vidraça embaça outra vez .Turva-se o olhar. Nova condenação.
Reincidente, o castigo agora dói mais. Ele está só. Preso outra vez. Ignora que não é a última condenação. Talvez um dia aprenda que a liberdade das emoções é temporária. De certo, se possível fugir, o faria. Mas o fato é que não há como avistar guardas fardados. Não existem corredores, nem portas, passagem alguma. Também, saídas clandestinas inexistem. A prisão se dá de tal modo que o indivíduo primeiro é preso, e somente após o ato prisional é que ele se dá conta que já não tem mais a liberdade de antes. Assim, comunicar-se do modo que for não lhe é permitido. E se o faz, a dor que sente é severa. E é esta dor que pouco a pouco cala a voz fraca.
Trancafiado em suas emoções que o dilaceram, caminha com o que lhe resta de vontade. O desejo maior é de não prosseguir. É parar por aqui, melhor assim. Findar sofrimento. Cerrar olhos e não ver mais nada. Mas não há coragem para ato que se mostra, em verdade, bastante covarde. Também, não é solução, senão fuga. O que fazer?
Aquele que está atrás de grades de ferro tem minutos de sol, que é como um lazer. Para o condenado por suas emoções, luz nenhuma é opção melhor. É quando a noite vem. A porta do quarto é fechada. Luz apagada. Corpo deitado. Visão nenhuma. Emoções não sentidas...