Dru, Dadah, Marceta e eu -- isso é amor antiiigo...

Em muitos dos meus textos menciono o velho grupo de amigos que vem dos tempos da UnB. Já são tantos anos de convivência, conivência e conveniência que nos tornamos uma espécie de família. Tanto que os filhos deles consideram os amigos de seus pais como tios. Sorte minha, que tenho poucos sobrinhos biológicos e ganhei um monte de sobrinhos de coração.

O núcleo inicial deste grupo era um quarteto: Dru, Dadah, Marceta e eu.

Juntas, fizemos uma viagem a Aracaju através da Operação Mauá, um daqueles programas governamentais que enviavam estudantes universitários pra outras cidades, com uma suposta finalidade educativa. Não obtivemos grande coisa em termos de educação ou instrução nesta viagem, mas nos divertimos imensamente! E, depois deste passeio, nos tornamos inseparáveis.

Fosse nas noitadas de violão, cerveja, conversas sobre política, literatura, arquitetura, teatro, música e muito besteirol nos botecos da "baixa Asa Norte"; fosse nas luaradas à beira do lago, com direito a muita música, vinho, namoros, paqueras e o indefectível besteirol; fosse nas outras viagens que fizemos com a turma da UnB a Ouro Preto, Diamantina e Pirenópolis; fosse nos acampamentos em alguma das muitas cachoeiras que existem aqui por perto; fosse nas incontáveis viradas de noite na FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) a que éramos obrigados por causa do grande volume de trabalho que nos era exigido a cada semestre, lá estávamos nós quatro, entremeando conversas da mais alta gravidade com os ditos espirituosos que inspirávamos umas às outras. E as risadas contentes pontuavam essa alegre convivência.

Eu, Marceta e Dru, inclusive, fomos madrinhas de casamento da Dadah. E isso é tema pra uma divertida crônica à parte, mas fica pra outra ocasião.

Por isso ficamos tristes quando a Marceta, logo depois de se formar, decidiu ir morar em Fortaleza, onde havia nascido e onde tinha muitos parentes e amigos. Por lá se casou, teve filhos e construiu uma bela carreira como arquiteta especializada em hospitais e clínicas.

Desde então, lamentavelmente, são poucas as ocasiões em que podemos nos reunir de novo. E ontem foi uma destas raras ocasiões.

Ela veio pra participar de um congresso na sua área e aproveitou uma folguinha pra se encontrar com a gente, numa very happy hour que se estendeu noite adentro e acabou reunindo outras amigas dos velhos tempos. O bacana dessa história é que, apesar de não termos mais a convivência frequente que tínhamos antes, continuamos tendo o mesmo vínculo de carinho, amizade e companheirismo, a mesma intimidade que faz com que haja tantas ou mais trocas através do olhar, dos gestos, das expressões de rosto e corpo e dos sorrisos, do que supostamente haveria numa simples troca de palavras.

Ontem, eu ficava olhando pra elas três e as reminiscências saltavam de dentro dos arquivos da memória, sem nenhuma sequência lógica ou ordem qualquer. Eu me admirava, maravilhada, de quão pouco cada uma mudou fisicamente através destes anos todos e isso contribuiu pra que eu visse ali as três meninas, companheiras de tantos causos e coisas que rolaram na nossa vida, sobrepostas às mulheres que hoje são. E me encharquei de ternura e de uma saudade meio doida e esquisita, porque não era triste, não era falta, não era pesada nem dolorosa. Era uma saudade que já estava sentindo, inexplicavelmente, daquele mesmo momento ali vivido e sentido.

Há trinta anos, duvido que alguma de nós pudesse supor que continuaríamos amigas-praticamente-irmãs pela vida afora, embora isto fosse naturalmente esperado, claro. Dadah já é avó, a Dru bem que já poderia ser também, a Marceta um dia será e eu já sou tia-avó. Mas, como não se faz mais avós como antigamente, continuam umas gatas, essas meninas! E eu continuo a mesma magrela de sempre, repleta de gratidão por ter amigas (e amigos) como essas lindonas, que atenuam generosa e espontaneamente as cargas que a vida vai depositando nas nossas costas.

Garotas, eu amo vocês! :)

Maria Iaci
Enviado por Maria Iaci em 16/04/2010
Reeditado em 18/04/2010
Código do texto: T2200186
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