Antes da última estação

O que gostaria de fazer ao entrar foi possível fazê-lo, que era tecer algumas palavras. Um fluir de bons sentimentos é que lhe davam o apetite literário. Ali, parado à espera do embarque de volta para sua casa, debatia para si o seu futuro. A resolução de incertezas traziam-lhe certas esperanças. Recordou com satisfação tantas indecisões, e calculou que elas eram fruto de falsas crenças, bem como medos criados. Agora o tempo lhe abria os olhos e o chão se mostrava mais firme. A melhor opção, calculou, seria a que trouxesse mudança no menor espaço de tempo.

Seguia para casa, onde teria alguns momentos com pequeno ser, sobrinho seu. Já optara faz tempo por ter filhos, gosto maior que tem pela liberdade. Refletia. Concluíra que falar de si é falar pelo outro, posto que vê poucas diferenças entre as pessoas. Muitas vezes até os problemas são os mesmos. De todo modo, à medida que escrevia sentia o crescer da frustração. Não se convencia que a soma produzida de palavras fosse algo que lhe agradasse. Pensava mesmo que produzia certa pobreza literária. Assim mesmo, e sem saber por que, não desistiu, e nem pensava em desistir. Era o fio de esperança de no decorrer da escrita encontrar uma ideia que lhe desse o presente do bom texto, o que se tratava, evidentemente, de uma incerteza.

Foi então que comparou o momento com outros vividos, quando de grandes dúvidas, incertezas, sobre novos rumos da vida. Talvez, ao contrário de agora, sentisse o medo de tempo perdido. Não queria errar ou dar passos em vão. A soma de passos errantes o fizera mais reticente, cauteloso, o que, evidentemente, é positivo. Mas nas crises sentia-se inábil para tomar uma decisão. Foi preciso que se passassem os dias para perceber que se tornara alguém mais ponderado, reflexivo.

No passar da paisagem lá fora, a constatação de que a vida ganhou do texto. Se ao conseguir decidir sobre seu futuro e se perceber obteve prazer, conforto, ao escrever não foi assim. Antes do término da viagem resolveu dar cabo do ato da escrita, quase que com a coincidência da última estação.