OS BAGRES DE JIRAU

Crônicas da Natureza

OS BAGRES DE JIRAU

*ghiaroni rios

O aproveitamento hidro energético dos rios da Amazônia “gera”, além de energia, embates técnicos, legais e ambientais polêmicos.

Na construção das barragens de Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira, em Rondônia, além de desafios técnicos de engenharia em que o Brasil é considerado ter bons engenheiros na área, chamados “barrageiros”, foi suscitada a questão da proteção da biodiversidade. Estaria sendo interrompida a migração dos “bagrinhos” e haveria retenção de sedimentos ricos em ficto e zôo-plancton, importantíssimos na manutenção da cadeia alimentar a jusante das represas?

Sendo o Madeira importante tributário do Amazonas, esse “empobrecimento” de nutrientes provocaria resultados negativos em cadeia, na produção natural de pescado em toda bacia Amazônica.

A fase do licenciamento ambiental e um de seus relatórios, o EIA-RIMA, têm, dentre tantas obrigações e compromissos, preverem impactos (positivos e negativos) e propor soluções e mitigações.

O fluxo migratório de peixes é (teoricamente) resolvido, senão de forma ideal, mas paliativa, com a construção, junto ao dique, da escada de peixes.

Os “bagrinhos”, comuns na região, são imensas Piraibas (Brachyplatystoma filamentosum), atingindo até 300 quilos; Pirara (Phractocephalus hemioliopterus), peixe arara em Tupi-Guarani, cujo recorde nacional é de 285 quilos; e o Jaú (Paulicea lutkeni), com recorde de 180 quilos. E as espécies ainda não conhecidas e estudadas? São exemplares únicos no mundo, de grande importância econômica e turística com a crescente pesca esportiva.

É preciso justificar a importância econômica de bens naturais, para aqueles que acham que só por existir, as espécies não merecem ser respeitadas e preservadas.

A formação de grandes lagos em si, já são causadores de impacto. Nossa matriz energética (hidro energia) é limpa sim, mas não absolutamente isenta de impactos negativos ao Meio Ambiente.

A estabilidade de um continental ecossistema como o Amazônico, mantido por milhões de anos, será rompido em um século pela nossa “fome” de energia?

As PCH’s, Pequenas Centrais Hidrelétricas, “voltaram” a ser moda. Seriam mais bem localizadas, próximas aos centros consumidores e de menor impacto. Sei lá! Em Minas está se licenciando em torno de 400 PCH’s.

Os impactos “positivos” nos licenciamentos, como os econômicos e sociais, são facilmente identificados e relevados pelas caras consultorias. Os negativos muitas vezes escamoteados, escondidos. As audiências públicas (exigência legal) muitas vezes não têm nada de público, é puro teatro.

Podemos creditar que os procedimentos (de licenciamentos) estão em aperfeiçoamento, assim como nosso frágil estado democrático de direito.

Biólogos de certa tendência estão dando solução para que não seja retido tanto sedimento nas represas, que além de proteger a vida selvagem aumentaria a vida útil da barragem ao diminuir o assoreamento.

Biólogos de outra linha, mais incrédulos, enxergam que escadas projetadas sem plano de manejo adequado, sem estudo detalhado e específico, criariam, em realidade, verdadeiras armadilhas ecológicas. Em verdade não há comprovação do uso das escadas pelas espécies de piracema. Brincam até com o mote: “bagre não é salmão, e escada não é solução”.

Oxalá estejam salvos os bagres da Amazônia. As futuras gerações agradecem.

O autor é ambientalista/escritor

ghiaroni rios
Enviado por ghiaroni rios em 15/04/2010
Código do texto: T2198797
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