BARCOS DE PAPEL E AÇUDES E VENTOS

Hoje, o sol que nem bem nasceu, já desespera a manhã, no corre-corre do dia, no morre-morre da vida. Numa passagem do pensamento, como sempre e cotidianamente ligeiro como o vento. E numa certa lembrança! Lembrei-me de quando ainda criança. Entre tantas brincadeiras pobres de crianças ricas em criatividade, que mora nessa idade e ela não demora, construia meus barcos de papel e na beira dos açudes, se não havia ventos, soprava-os fazendo-os mover-se.

Hoje, no desespero da manhã, nessa vida minha que escorre, sinto-me barco de papel num açude grande. Sou este barco de papel de vida e sinto o vento soprando nas minhas costas, e me faz caminhar, me faz navegar. Sinto que há sempre alguém do meu lado, que observa este barco eu, que ora parece naufragar neste açudão ocêanico e noutro instante resiste, mas se torna incessante, e constantemente prossegue.

Hoje, nesta manhã que aparentemente se desespera e começa a correr, eu parado, penso e percebo que o movimento dos ventos vem de todas as direções. Mas eu sei, barco de papel, que há tempestades e nessas horas, sei que talvez fique a deriva. Mas ao certo eu sei que os melhores sopros, vem da vida da vida, vem de bocas pequenas, morenas e irmãs, vem de Pedro e de Bruna. E eu barco navego, nesta vida de açudes e rios, com o sopro do vento natural, beleza maternal da mãe natureza, com a voz do vento de D. Antonia. Sei também que há ventos tortos. Mas também tenho a certeza que hoje, no desespero da manhã, que o amor desses ventos que sopram, quando eu preciso voltar, eles vão deixar de soprar, para deixar este barco eu de papel ancorar, no coração dos seus portos.

Salgueiro/PE, 15/04/2010

Hélio Ferreira