O NASCER DO SOL
A noitada que prometia aconteceu. E cá estou, numa casa totalmente vazia, às voltas com almofadas espalhadas pelo chão, taças viradas sobre a mesa, baldes de gelo, garrafas vazias , um casaco de couro esquecido sobre uma poltrona, som ainda ligado, espalhando pelo ar o tema de Perfume de Mulher, enquanto eu vejo o dia clarear. Na boca, o gosto, ainda, da última taça de vino Nobile di Monte Pulciono, enquanto o corpo reclama cama. Da janela observo o sol surgir das profundezas do mar à minha frente num céu manchado de vermelho. Não há como descrever tanta beleza, mesmo diante de uns olhos turvados e cansados como os meus neste momento. Desvio olhar e com um outro nascer do sol me deparo; este vem de um quadro pendurado na parede, cópia de uma pintura impressionista de Claude Manet onde o azul e o verde predominam. O quadro foi um presente; sentei-me diante dele para recordar um amor vivido com quem me presenteou...Ha quanto tempo o tenho...? Só sei que quando casei o levei comigo e o meu marido perguntou-me onde pretendia pendurar aquela cópia barata, aquela “relíquia” . Não, eu não perdurei em lugar algum da minha casa, só depois que o meu marido se foi, que eu o trouxe para a casa da praia e dei-lhe lugar de destaque na parede da sala de visitas. Hoje, passado tantos anos, recebo um grupo de amigos e para surpresa minha entre eles um casal não convidado. O homem sabia para onde vinha, mas eu não sabia que ele viria, desconhecia o seu paradeiro. Foi atencioso ao cumprimentar-me – sem dar sinal de conhecer-me – apresentou-me sua mulher, deteve-se diante do quadro, fez um ar de riso, comportou-se com desenvoltura durante a noite, bebeu mais do que devia, gabou-se do seu sucesso empresarial, das suas viagens mundo afora e quando foi embora esqueceu o casaco de couro em cima da poltrona. Por que o fez...? Para ter a desculpa de voltar para apanhá-lo? Hum... hum... pensando bem... preciso dar um jeito nesta sala, outro tanto em mim... Parece que a velha chama reacendeu... quero estar bem quando ele voltar... E seja o que Deus quiser!
A noitada que prometia aconteceu. E cá estou, numa casa totalmente vazia, às voltas com almofadas espalhadas pelo chão, taças viradas sobre a mesa, baldes de gelo, garrafas vazias , um casaco de couro esquecido sobre uma poltrona, som ainda ligado, espalhando pelo ar o tema de Perfume de Mulher, enquanto eu vejo o dia clarear. Na boca, o gosto, ainda, da última taça de vino Nobile di Monte Pulciono, enquanto o corpo reclama cama. Da janela observo o sol surgir das profundezas do mar à minha frente num céu manchado de vermelho. Não há como descrever tanta beleza, mesmo diante de uns olhos turvados e cansados como os meus neste momento. Desvio olhar e com um outro nascer do sol me deparo; este vem de um quadro pendurado na parede, cópia de uma pintura impressionista de Claude Manet onde o azul e o verde predominam. O quadro foi um presente; sentei-me diante dele para recordar um amor vivido com quem me presenteou...Ha quanto tempo o tenho...? Só sei que quando casei o levei comigo e o meu marido perguntou-me onde pretendia pendurar aquela cópia barata, aquela “relíquia” . Não, eu não perdurei em lugar algum da minha casa, só depois que o meu marido se foi, que eu o trouxe para a casa da praia e dei-lhe lugar de destaque na parede da sala de visitas. Hoje, passado tantos anos, recebo um grupo de amigos e para surpresa minha entre eles um casal não convidado. O homem sabia para onde vinha, mas eu não sabia que ele viria, desconhecia o seu paradeiro. Foi atencioso ao cumprimentar-me – sem dar sinal de conhecer-me – apresentou-me sua mulher, deteve-se diante do quadro, fez um ar de riso, comportou-se com desenvoltura durante a noite, bebeu mais do que devia, gabou-se do seu sucesso empresarial, das suas viagens mundo afora e quando foi embora esqueceu o casaco de couro em cima da poltrona. Por que o fez...? Para ter a desculpa de voltar para apanhá-lo? Hum... hum... pensando bem... preciso dar um jeito nesta sala, outro tanto em mim... Parece que a velha chama reacendeu... quero estar bem quando ele voltar... E seja o que Deus quiser!