Uma canção de Amor pra voce
Hoje nem quero ler o jornal. A injeção que não dói ainda não saiu das paredes da Universidade chinesa, o pâncreas artificial ainda está em desenvolvimento. A chuva? Dará trégua apenas por mais alguns dias e os moradores retirados das áreas de risco do Rio de Janeiro ainda não receberem o aluguel social do Governo e continuam amontoados em colégios e igrejas.
Hoje não quero sofrer na Língua o que já sofremos ( e de sobra ), no corpo. A língua que desejo é a que beijo, quente e perfumada. Hoje quero me ler em olhos atentos e escrever canções de amor. Fechar os olhos e saber que tenho com quem contar. Que tenho boas notícias.
Este jornal fechado eu rabisco, ponho bigodes nas fotos das modelos, circulo todos os quês e anoto meu telefone para quem sabe, dá-lo a garçonete que todas as manhãs serve minha média costumeira e todas as tardes, com um sorriso, me oferece uma cadeira e a bebida preferida.
Quem sabe ela não liga? Quem sabe o jornal destruído não trás boas notícias a quem encontrar seus pedaços? Quem sabe? Os quadrinhos não e nem as palavras cruzadas. Estes estão destinados aos meus pequenos sobrinhos que não passam sem eles.
Só mais este retrato de criança. Este também. Um sorriso limpo, cheio de futuro e inocência. Distantes do presente impreciso e protegidos por uma aura de vontade e de fé. Tudo guardado, hora de ir embora assinar o ponto, assumir o dia. A foto de criança vai para dentro da bíblia. Agora, boas notícias. A canção de amor já foi escrita.